terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Nádia Lapa: Feminismo pra quê?

feminismo
A representação da mulher na mídia e em produtos
Em comerciais de televisão, produtos e marcas, a mulher é tratada como brinde, imbecil ou hipersexualizada

Todo mundo já sabe: em comerciais de cerveja, estará sempre muito calor e as mulheres vestirão um biquini fio dental nos corpos belíssimos. Corpos esses sem língua, diga-se, porque elas nunca falam nada. Quer vender detergente, sabão em pó ou qualquer outro produto de limpeza? Direcione as propagandas paras mulheres, porque elas ainda não saíram da cozinha.

Vemos isso o tempo todo, tomamos como verdade absoluta, e nem ligamos muito para a representação da mulher nos comerciais. Fúteis, vazias, competitivas com outras mulheres, rainhas do lar, vaidosas em nível tóxico. “É só propaganda”, diriam alguns. Alguns muitos. Outros vários diriam que quem vê problema nessa má representação da mulher está é “falta do que fazer”. “Vai lavar uma louça”, os engraçados de Twitter responderiam. Na verdade, o sistema é esse, feroz, que se retroalimenta dos pensamentos da sociedade. As propagandas são ruins porque o público alvo é ruim, ou é o contrário? Difícil dizer.

Nos Estados Unidos há uma iniciativa chamada The Representation Project, que cuida justamente de analisar como a mídia mostra as mulheres (veja vídeo ao final do post). Aqui no Brasil não temos nada parecido, mas grupos feministas online costumam questionar as empresas quanto aos seus anúncios sexistas e muitas, muitas vezes misóginos.

Foi o que aconteceu durante a Copa das Confederações. A Ariel, marca de sabão para lavar roupas, lançou uma propaganda no Facebook com quadrinhos mostrando como a mulher também gosta de futebol. Seria ótimo quebrar o estereótipo de que só homem gosta do esporte, enquanto as mulheres são histéricas que só gritam nas partidas da seleção brasileira e não sabem nem o que é um escanteio, mas a marca, pertencente à Procter & Gamble, reiterou na série de quadrinhos como a mulher vê futebol por causa das pernas dos jogadores e que “torce”. Torce roupa. Porque mulher esquenta barriga no fogão e esfria no tanque.



Falei com a assessoria de imprensa sobre os quadrinhos, e recebi a seguinte resposta: “a P&G informa que em maio desse ano postou na fanpage de Ariel um pedido de desculpas pela tirinha criada para a Copa das Confederações. Vale ressaltar que a empresa valoriza a diversidade, assim como o papel de importância da mulher em nossa sociedade. A empresa informa ainda que levará em conta todos os comentários e considerações que foram postados na época em sua fanpage para as próximas campanhas da marca.”.

Eles, pelo menos, assumiram que foi uma bola fora (e sim, nós sabemos quando é lateral ou escanteio nesses casos). A cerveja Crystal, do Grupo Petrópolis, infelizmente não fez o mesmo. Tentou mais ou menos fugir da velha fórmula mulheres de biquini na praia (tem algumas à beira da piscina, ora pois!), e colocou uma mulher… como brinde!

Não, Crystal, apenas não. Mulher nunca é um brinde. Ou não deveria ser. A resposta da marca foi: “O Grupo Petrópolis sempre respeitou as mulheres e, em nenhum momento, teve a intenção de tratá-la como objeto. A propaganda trabalha com humor e respeito.”. Interessante observar o uso da palavra brinde, que não só é um objeto, como é um objeto que a pessoa ganha, sem maior esforço. A saída escolhida pela Petrópolis foi dizer que isso, comparar uma mulher a algo que se ganha, é piadinha. Humor é seeeeempre a desculpa para qualquer erro.

Quer ver como é sempre tudo muito, muito engraçado? A resposta da NET ao meu questionamento sobre o comercial abaixo parece até ter sido escrita pela assessoria da Crystal: “As campanhas da NET se caracterizam pela irreverência e bom humor. A empresa busca trazer novidades e frescor em sua forma de se comunicar e para isso se utiliza de temas ou situações que auxiliem neste fim. Especificamente no filme citado, seguimos com a mesma intenção e em momento algum houve o intuito de denegrir a imagem da mulher ou imprimir qualquer outra conotação, apenas utilizou-se de um contexto usado no dia a dia das pessoas e em tom de brincadeira.”.

Que coisa engraçada tratar a mulher como 1) desesperada por um príncipe; 2) interesseira a ponto de trocar um príncipe por um cartão de crédito. Hum… não.

Outra tática utilizada pelas empresas é dizer que algo – produto ou comercial – simplesmente caiu no colo delas. É preciso apontar que antes de ir ao ar ou aparecer nas araras das lojas, o produto ou propaganda passa por uma série de pessoas. Tudo está sujeito à criação, aprovação, produção. Há muito tempo e incontáveis oportunidades para alguém nesse ciclo simplesmente dizer “ei, isso aqui está errado, não vamos colocar no ar/colocar à venda”.

No entanto, se alguém tem tal iniciativa nesse processo, certamente sua voz não está sendo ouvida. Enquanto isso, as empresas lavam as mãos a respeito da responsabilidade acerca da equidade de gêneros. A Luigi Bertolli está vendendo, neste momento, uma camiseta que diz:

Look like a girl

Act like a lady

Think like a man

Work like a boss



Pareça uma garota, se comporte como uma dama, pense como um homem, trabalhe como chefe. Pense como um homem? O que há de tão diferente no pensamento de um homem para que eu, mulher, deseje ser como ele? Não está bom ser do jeito que eu sou e pensar do meu jeito? Ou homens são mais inteligentes?

“A camiseta mencionada não tem qualquer objetivo machista, feminista ou político. Trata-se apenas de mais uma estampa de moda que combina frases irreverentes com as cores da estação. Sendo assim, a Luigi Bertolli não teve intensão ou pretensão de sugerir nenhum tipo de comportamento.”

Ah, está tudo bem agora, então, ufa! Que bom que uma marca denunciada por trabalho escravo e que não faz roupa para gorda não está me dizendo como viver. Sinto um grande alívio agora.

É evidente que isso não é verdade. Uma marca vende não só um produto, tangível, mas também um estilo de vida. O consumidor, então, compra algo de acordo com o que lhe é vendido. Não é só a camiseta ou o sabão em pó. Quando se trata de autoestima, então, ataca-se um ponto fraco das mulheres. Até supermodelos dizem que às vezes não se sentem tudo isso, imagine uma mulher comum, que trabalha, vai à faculdade, cuida dos filhos, lava louça, entra em fila de banco.

As mensagens que ela recebe são de que ela precisa ser bonita, atraente, sexy, ter a aparência de uma garota e comportamento de uma dama. Ela precisa. É isso que é cobrado o tempo todo dela. E, se não der pra ser tudo isso por si mesma, só resta competir com as outras mulheres, tratando-as como café-com-leite.

(A assessoria da Eudora ainda não se pronunciou a respeito do comercial.)

As mulheres precisam se unir e se empoderar, juntas, sem essa coisa de competir entre si. É triste ver uma empresa voltada às mulheres com esse tipo de discurso. No fim, se você não tiver uma aparência de capuccino e for um mero café-com-leite, você não será a escolhida pelo gatinho da balada. Não foi por causa dele que você saiu de casa?



Viu? Amigos de verdade não deixam os amigos saírem com meninas feias, diz a camiseta da Hering. Melhor ser um capuccino, garota, se não você está perdida. Segundo a assessoria da empresa, “em relação ao caso das estampas questionadas por consumidores, a Cia. Hering esclarece que já tomou as providências necessárias para evitar estes temas em seus produtos futuramente. A empresa reforça ainda que a estampa não condiz com os princípios e os valores defendidos pela marca”.

Antes de eu questioná-los acerca da estampa, consumidores já o tinham feito por meio das redes sociais. Eles disseram que tirariam as camisetas das araras, mas dias depois as lojas continuavam vendendo. Sabem o motivo? Porque não importa. O sistema todo é assim. Este post poderia ser infinito, porque todos os dias nos deparamos com a péssima representação das mulheres na mídia.

O problema é que acreditamos nisso tudo. Mais do que comprar o sabão, a camiseta ou a maquiagem, nós compramos a ideia. E vivemos com ela, repetindo-a, sentindo-a na pele. Você é café-com-leite, você não é bonita o suficiente, você não será amada, você está gorda demais. E compre isso aqui para diminuir o buraco que eu, empresa, criei em você.
***
Como a mídia errou ao representar as mulheres em 2013 (em inglês). Vídeo do The Representation Project.

Por Nádia Lapa

domingo, 22 de dezembro de 2013

Avanço no continente: Uruguai e a regulação da maconha

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O Uruguai acaba de se tornar o primeiro país da América do Sul a regular a comercialização da maconha. A nova legislação, proposta por Mujica está em fase de sanção presidencial depois de ser aprovada pelo Senado.

Em um ano onde, em terras uruguaias, foram legalizados o aborto (até o terceiro mês), o casamento gay e onde a democratização da comunicação começa a se transformar em realidade, a regulação do mercado de cannabis completa um ciclo de muitos avanços naquele país.
A legalização da maconha foi aprovada pelo Senado por uma diferença de 3 votos no último dia 10. O Estado fica com o controle da produção e a comercialização será feita em farmácias com a grama sendo vendida por 1 dólar. O projeto além de legalizar a compra e a venda da substância, prevê a criação de uma agência estatal reguladora que emitirá licenças e controlará a produção e a distribuição da droga.
Em entrevista recente o presidente uruguaio José Mujica afirmou que não se trata de “legalização, é regulação de um mercado já existente. Independente da nossa vontade, esse mercado já existe”.
Os consumidores, para uso recreativo da substância, serão cadastrados e poderão comprar maconha em farmácias autorizadas. O limite para compra será de 40 gramas por mês. O usuário poderá também cultivar a substância em casa, com o limite de seis plantas, que não produzem mais do que 480 gramas por colheita.
O objetivo da medida é combater o tráfico da erva no Uruguai, reduzindo dessa forma a criminalidade.



Opositores

A avançada lei uruguaia encontra, no entanto, forte oposição. O ex-presidente, e rival de Mujica nas eleições presidenciais de 2009, Luis Alberto Lacalle, ironizou a nova lei e sugeriu a criação de uma “Petrobras da Erva”. Já a ONU, que tem sob sua responsabilidade a inspeção do cumprimento dos convênios internacionais sobre drogas, lamentou a medida e advertiu o Uruguai de que sua lei para regular a produção, venda e o consumo de marijuana viola os tratados internacionais, dos quais o Uruguai faz parte.
Os opositores ignoram o fato de que a lei retira, ao transferir a responsabilidade para o Estado, a comercialização da erva das mãos de grupos criminosos, e com isso tende a diminuir consideravelmente os crimes que ocorrem por motivos, por exemplo, de acertos de contas entre quem vende e quem compra a droga.
Em contra partida, o secretário da presidência Diego Cánepa, afirmou que “as farmácias vendem drogas que são muito mais duras e viciantes do que a maconha”.

Regulação: autocultivo, compra e venda

O ministro do Interior, Eduardo Boomi, disse que o controle do autocultivo da erva não estará sob responsabilidade do Ministério do Interior, e que talvez fique a cargo do Ministerio da Saúde Pública ou ao Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca, mas que esse ainda é um ponto que carece de regulamentação.
O secretário Cánepa mencionou que, de acordo com a nova lei, o Instituto Nacional para a Regulação e o Controle da Cannabis, encarregado do controle da produção e venda da marijuana, será o organismo que outorgará as licenças de comercialização.



No Brasil

No nosso país, que ainda não efetuou passos consistentes a caminho da regulação do mercado da maconha, que existe, mas não é regulado, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso defendeu, em plenário, o debate sobre a descriminalização das drogas.
“Eu não vou entrar na discussão sobre os malefícios maiores ou menores que a maconha efetivamente causa, mas é fora de dúvida que essa é uma droga que não torna as pessoas anti-sociais” afirmou o ministro.
Segundo matéria publicada no site UOL, o ministro também questionou a prisão de réus primários por portarem substancias ilícitas. “Diante do volume de processos que recebemos, cheguei à constatação que me preocupa que é a de que boa parte das pessoas que cumprem pena por tráfico de drogas são pessoas pobres que foram enquadradas como traficantes por porte de quantidades não significativas de maconha. E minha constatação pior é que jovens, negros e pobres entram nos presídios por possuírem quantidades não tão significativas de maconha e saem de presídios escolados no crime”.
Ao apresentar o seu voto o ministro Barroso ainda colocou que o foco do seu argumento não é a questão do usuário e que sua preocupação é outra e seriam duas. “A primeira é reduzir o poder que a criminalização dá ao tráfico, aos seus barões nas comunidades mais pobres do país e, especialmente, na minha cidade de origem, o Rio, a criminalização fomenta o submundo do poder político e a economia dos barões do tráfico que oprimem comunidades porque eles conseguem oferecer remuneração maior do que o Estado e o setor privado em geral”.

Por Thiago Cassis

MST acusa Globo e STF de conluio para criminalizar a luta política

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Em carta aberta, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, um dos principais movimentos sociais da América Latina, acusa diretamente os meios de comunicação, em especial a Globo, de fazer um conluio espúrio com o Supremo Tribunal Federal, para, ao arrepio das leis, criminalizar a luta política no país. E defende José Genoíno e José Dirceu, pelas lutas que ambos sempre empreenderam em prol de trabalhadores e dos movimentos sociais.



Aos Camaradas José Dirceu e José Genoino

22 de novembro de 2013

Da Página do MST

Caros Camaradas José Dirceu e José Genoino,

A Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem acompanhando com indignação o Julgamento de Exceção e a condenação injusta.

Repudiamos com veemência a ação do judiciário brasileiro, em especial o Supremo Tribunal Federal, serviçal à classe dominante no país, que há anos vem atuando contra a classe trabalhadora, os movimentos sociais e a luta política.

Para os Movimentos Sociais, a criminalização representa um recuo das conquistas democráticas obtidas através das lutas históricas dos trabalhadores e trabalhadoras, das quais vocês são sujeitos protagonistas.

No último período, o MST também tem sido alvo da atuação parcial do judiciário, no que diz respeito ao bloqueio da Reforma Agrária, à continuidade da violência no campo, à perpetuação da impunidade aos crimes e massacres cometidos e perseguições políticas às nossas entidades jurídicas.

Essa atuação tem sido fortalecida pelos meios de comunicação de massa a partir de uma aliança de classe entre os setores dominantes, que arquitetam “shows midiáticos”, cerceando o direito à informação e à crítica. No caso desse julgamento, a aliança entre a Globo e o STF se tornam evidentes e revelam, mais uma vez, o poder de hegemonia da dominação.

Diante disso, reafirmamos o nosso compromisso em denunciar e combater as práticas promíscuas de parte do judiciário e da mídia burguesa brasileira. Seguiremos na luta pela construção de um país soberano, com participação popular efetiva e na construção intransigente da justiça social.

Expressando nossa indignação, nos solidarizamos e exigimos a liberdade imediata de vocês.

“CONTRA A INTOLERÂNCIA DOS RICOS, A INTRANSIGÊNCIA DOS POBRES”
Florestan Fernandes

Direção Nacional do MST

http://www.mst.org.br/node/15477

Fonte: Blog O Cafezinho

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Carta de Brasília: combater o machismo, emancipar as mulheres e construir o socialismo!


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Confira o documento na íntegra:
Nós meninas e meninos, jovens socialistas ombreados no I Encontro de jovens feministas da UJS, nos orgulhamos de realizar este espaço que alça a luta emancipacionista das mulheres ao centro da nossa construção do socialismo no Brasil.
A história da exploração sexual do trabalho, em que foi relegado às mulheres o confinamento ao mundo privado, o mundo dos cuidados à família e o não reconhecimento de nossos direitos civis e políticos, potencializa a própria exploração de classes ao qual os trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo estão submetidos.
O Capitalismo, que vive desde 2008 sua maior crise sistêmica, tem como um dos pilares do seu aparato ideológico de dominação a propagação de modelos de sociedade baseada nos valores de individualismo, do consumo desenfreado, mas também do machismo, através do estabelecimento da divisão sexual do trabalho, dos esteriótipos de beleza, de comportamento alinhados ao padrão cristão de civilização, rebaixando o papel das mulheres na sociedade.
No ano em que a UJS inicia as comemorações dos seus 30 anos, precisamos contar não só nossa história pela lente do protagonismo juvenil, mas principalmente, dar visibilidade ao protagonismo feminino que é tão presente nas nossas raízes.
Nossa herança mais forte, a da Guerrilha do Araguaia, teve nas suas fileiras a bravura das mulheres comunistas, que no coração do Brasil, em Xambioá, aliou ao combate à ditadura, a luta pelo socialismo e a luta pela emancipação da mulher brasileira. E por isso, não só morreram, mas tiveram seus corpos duramente violentados, como uma tentativa de não deixar legados de questionamento à sociedade patriarcal. São as nossas heroínas Elza Monerat, Dinalva Oliveira Teixeira, Helenira Rezende, Maria Lúcia Petit, Dinaelza Santana Coqueiro, Luzia Reis, Suely Kanayama, Lucia Maria de Souza, Luiza Garlippe, Criméia Schimidt de Almeida, Áurea Valadão, Maria Célia Correa, Edilena da Silva Carvalho, Lúcia Regina Martins, Jana Barroso e Telma Regina Correa.
O ano de 2013 também entrará para nossa história, pois imensas foram nossas conquistas em que as mulheres também estiveram na linha de frente. A vitória da revogação do aumento da passagem de ônibus em centenas de cidades brasileiras mostra a força da juventude nas ruas. Conquistas históricas como a aprovação de 50% do Fundo social do Pré-sal e 75% dos royalties do petróleo para a educação e a aprovação do estatuto da juventude, foram lideradas pelas meninas presidentas da UNE, UBES e ANPG. Essas vitórias foram impulsionadas pelas ruas de junho e reforçam a convicção do papel decisivo que tem a juventude na luta pelo Brasil dos nossos sonhos.
A luta pelo socialismo com a cara do Brasil, no entanto, depende ainda da superação de muitos entraves que só poderão ser vencidos se avançarmos em reformas mais profundas, democráticas e estruturantes. Com centralidade para uma Reforma Política, que torne a política mais representativa do povo e das mulheres, assegurando o fim do financiamento privado de campanha, a garantia da paridade de mulheres nas listas partidárias e cotas de 50% de mulheres e alternância de gênero em todas as casas Legislativas do Brasil.
A democratização da mídia, que reproduz cotidianamente os esteriótipos e valores hegemônicos de patriarcado e do machismo. Nossa luta pela verdade e pela justiça passará por, nos marcos dos 50 anos da ditadura que se dará em 2014, assegurar a Revisão da Lei da Anistia, a punição dos torturadores e a devolução dos restos mortais dos nossos guerrilheiros e guerrilheiras do Araguaia.
A nossa luta feminista deve ser transversal em todas as lutas e bandeiras levantadas pelo nosso povo. Não é possível construir uma sociedade sem classes e socialista, sem libertar metade da população mundial das opressões simbólicas e físicas constituídas historicamente.
A dominação do corpo da mulher se constituiu como mecanismo estruturante da manutenção do sistema de dominação e para a manutenção dele o machismo deve ser reproduzido permanentemente.
A cultura cristã ocidental que nos enquadra entre os esteriótipos de pecadoras na figura de Eva ou de puras e castas como Maria, mãe de Deus, não permite expressar nossa diversidade de ser e de amar. Não somos putas nem santas!
Nesse padrão não cabem meninas que amam meninas, não cabem meninas que não tenham na maternidade seus principais objetivos de vida, não cabem profissionais das áreas de ciências aplicadas e altas tecnologias, não cabem meninas ocupando postos de poder.
Precisamos romper com esses símbolos que impedem o avanço de lutas importantes como o direito pleno ao corpo, a legalização do aborto, o avanço de políticas pelo fim da violência contra a mulher como a Lei Maria da Penha, a garantia de creches nas universidades e locais de trabalho e políticas que tirem da carga de trabalho da mulher as horas de trabalho doméstico, desse trabalho excedente não remunerado ao qual somos submetidas.
O machismo é uma das vertentes da luta de classes e só será superado no socialismo, quando romperemos com as amarras culturais que oprimem, mutilam e matam as mulheres. Nossa tarefa primeira sem dúvidas é ocupar os espaços de poder. Esse é um elemento que pode determinar o avanço da luta emancipacionista no Brasil, e portanto da luta pelo socialismo.
Agora é a hora das meninas e o povo no poder.
Esse I Encontro de jovens feministas pavimentaram um caminho sem volta. A UJS deve somar sua energia na luta das feministas brasileiras. Ninguém segura mais as meninas da UJS e essa energia vibrante que será decisiva para os desafios que se avizinham em 2014.
Brasília, 15 de dezembro de 2013.
I Encontro de Jovens Feministas da UJS.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Acompanhe o 1º Encontro de Jovens Feministas da UJS



O 1º Encontro de Jovens Feministas da UJS está acontecendo em Brasília e você pode acompanhar através do blog da UJS DF:

ASSISTA AQUI

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Participe: I Encontro Nacional de Jovens Feministas da UJS

O I Encontro de Jovens Mulheres Feministas da UJS irá acontecer nos dias 13, 14 e 15 de dezembro, em Brasília, com o objetivo de aprofundar a elaboração e ativismo para conquistar mais direitos para as jovens mulheres brasileiras e afirmar o socialismo como caminho para sua plena emancipação.

A abertura do evento, que será realizado no Congresso Nacional, terá o ato político “Meninas no Poder – Reforma Política Já!”, e contará com a presença da ministra da Secretária Especial de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci.

O Encontro contará com parlamentares, intelectuais, artistas e movimentos sociais e terá uma programação cultural permanente. A I Mostra Cultural Feminista terá oficinas de bateria, grafite, estêncil e rádio web com o CEMJ, e o palco estará aberto para aqueles que queiram realizar apresentações culturais (para se apresentar, basta enviar um e-mail para ujsfeminista@gmail.com).

Os temas discutidos irão desde a história e correntes do feminismo até temas como: a democratização da mídia para combater a reprodução do machismo; a mulher no mercado de trabalho; violência e sexualidade.

O Encontro reunirá mulheres de todo o país, tendo como tema “Combater o machismo, emancipar as mulheres, construir o socialismo”, o evento vem para coroar o empoderamento das mulheres na União da Juventude Socialista.

De acordo com a diretora nacional de jovens mulheres da organização, Maria das Neves, a iniciativa responde a uma demanda complexa da resistência ao machismo. “Lutamos por uma sociedade justa e igualitária e o machismo é parte dos obstáculos da construção do socialismo. Internamente, estamos desnaturalizando esse problema. O empoderamento das meninas na nossa organização é um caminho sem volta”, disse ao resgatar o fato de que as presidentes da UNE, UBES e ANPG são mulheres.

Preencha seu formulário e participe!

Evento no Facebook:

https://www.facebook.com/events/456174774504243/?previousaction=join&source=1

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Ismael Cardoso: A Nelson Mandela

Nelson Mandela
Em fevereiro de 2010 escrevi este artigo sobre o filme Invictus, que retrata de maneira memorável a figura unificadora de Neslon Mandela. Adeus Mandiba!

Título original do artigo: Invictus, o esporte e a união nacional da África

“…sou dono e senhor de meu destino; sou o comandante de minha alma”.

Assisti uma bela história: Invictus, poema e título do filme que homenageia Nelson Mandela – ou Mandiba, como é chamado pelo povo africano, que em 2010 completa 20 anos em liberdade.

A história começa com sua libertação depois de 27 anos obrigado a trabalhos forçados na cadeia. Pasmem: ele optou por viver em regime fechado. Seus inimigos ofereceram uma prisão em regime semi-aberto caso deixasse de lado a luta revolucionária pela libertação de seu povo, mas se recusou a aceitar tal proposta e enviou uma carta a seus companheiros dizendo: “Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! Entre a bigorna que é a ação da massa unida e o martelo que é a luta armada devemos esmagar o apartheidl”.

O filme aborda um aspecto interessantíssimo do governo Mandela e sua luta para unificar o país, com negros e brancos. Em 1995, a África do Sul sediaria a copa do mundo de Rúgbi e o time sul-africano, que era a paixão da “África branca”, tinha apenas um negro e não tinha a menor chance de ser campeão.

Mandela assume o poder com o país à beira de uma guerra civil, sob a desconfiança do mundo e a expectativa de utilizar sua vitória para revidar toda a humilhação que seu povo sofreu com o Aparthied.

Foi instigado pelas massas e seu partido a revidar, mas, aparentemente contrariando sua história de guerrilehiro e líder incoteste anti-apartheid, utiliza um dos maiores símbolos dos brancos – o rúgbi – para unificar seu país. Sua primeira atitude é impedir a mudança das cores do time que representam a África divida e a mudança do hino nacional que, obviamente, era um canto da “superioridade branca”. Dizia que mudar as cores do time e o hino nacional era fazer com os brancos o que eles fizeram com o negros – ou seja, tirar-lhes aquilo que gostavam.

Ele governaria para todos – acho que já ouvi essa frase por aqui -, mas, não seria fácil. Além de toda a desconfiança e sabotagem das elites, havia até um urubólogo do tipo Mirian Leitão que fazia piada com a vontade do líder de fazer do time de rúgbi campeão daquela copa do mundo – o time era muito ruim! Mas sabia que, quando o time jogasse com todo o país, jogasse com o coração de uma nova nação, democrática, de direitos para todos, a história poderia ser diferente. Em síntese, Mandela buscou utilizar o esporte para universalizar o sentimento de uma nova nação!

Ficou fácil agora entender por que o filme se chama invictus? Claro, o time foi campeão sem perder nehuma partida e, quando o urubólogo provoca o capitão do time dizendo que foi até facil ganhar com 63 mil pessoas torcendo a favor, o capitão, branco, filho de um anti-mandela, responde prontamente: “não fomos campeões com 63 mil, fomos campeões com 43 milhões de africanos”.

Por último, o título do filme, como disse, é de um poema e não tem relação apenas com a invencibilidade do time de rúgbi, mas é o poema preferido de Mandela. Dizia ele que nos 27 anos que passou naquela pequena cela, toda vez que se sentia enfraquecido, triste, abatido, ele lia aquele poema, que o revigorava a continuar de cabeça erguida pelo fim de todas humilhações impostas pelo imperialismo ao seu povo e que, mesmo assim, foi capaz de perdoar e governar para todo o povo africano, brancos e negros.

Invictus (William E Henley)


Do fundo desta noite que persiste

A me envolver em breu – eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum acaso existe,

Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,

Sob os golpes que o acaso atira e acerta,

Nunca me lamentei – e ainda trago

Minha cabeça – embora em sangue – ereta.

Além deste oceano de lamúria,

Somente o Horror das trevas se divisa;

Porém o tempo, a consumir-se em fúria,

Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda – eu não declino,

Nem por pesada a mão que o mundo espalma;

Eu sou dono e senhor de meu destino;

Eu sou o comandante de minha alma.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Vitória da juventude: Senado aprova lei de meia-entrada

meia-entrada
O senado aprovou ontem (4), em votação simbólica, a proposta que garante que 40% dos ingressos sejam reservados para meia-entrada. A matéria regulamenta o benefício para entrada em espetáculos artísticos, culturais, esportivos e de entretenimento em todo país e segue agora para sanção da presidenta Dilma Rousseff.

A União da Juventude Socialista considera a meia-entrada estudantil uma das principais conquistas dos estudantes ao longo da história. Desde a medida provisória 2.208/01, de autoria do então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, acompanhamos à desregulamentação da meia-entrada.

A medida provisória abriu espaço para que oportunistas montassem um verdadeiro mercado de falsas carteiras de estudante, que passaram então a ser emitidas por qualquer instituição ou estabelecimento, dando origem às fraudes. Portanto a vitória conquistada com a aprovação deste projeto busca garantir este direito e fazer valer o direito da juventude.

O mercado cultural, através de ingressos promocionais e outros dispositivos, também criou mecanismos para anular este direito dos estudantes. Com essa medida busca-se garantir os direitos de estudantes, pessoas com deficiência e jovens de baixa renda.

Pelo projeto, além da União Nacional dos Estudantes, poderão emitir as carteiras de estudante a Associação Nacional de Pós-Graduandos, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e as entidades estaduais e municipais filiadas a qualquer das três instituições. A carteira continuará a ter validade por um ano. A regra não vale para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

domingo, 1 de dezembro de 2013

CARIOCA BÁRBARA MELO É ELEITA PRESIDENTA DA UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS (UBES)

Conubes_CRÉDITO - VITOR VOGEL
Congresso da entidade terminou neste sábado (30/11) em Belo Horizonte, com a participação de 7 mil estudantes de todos os estados do Brasil

A União Brasileira dos Estudantes (UBES) encerrou, neste sábado (30) o seu 40º Congresso na cidade de Belo Horizonte, com a participação de 7 mil estudantes de todo o Brasil, a definição dos rumos do movimento estudantil para os próximos anos e a eleição da nova diretoria da entidade. Na plenária final do encontro, realizado no ginásio do Mineirinho, a carioca Bárbara Melo, de 19 anos, foi eleita presidente da UBES e terá, a partir de agora, a responsabilidade de representar os mais de 50 milhões de estudantes do ensino médio, fundamental e técnico brasileiro.

Estudante da escola Oscar Tenório na capital fluminense e intensamente envolvida com a onda de manifestações brasileiras que tiveram sua explosão no mês de junho, Bárbara espera que a entidade, com mais de 65 anos, avance na luta pelo passe livre estudantil, na reformulação do ensino médio e nas lutas feministas. A eleição marca a continuidade de gestões de mulheres no movimento secundarista, com a saída da pernambucana Manuela Braga.
VEJA ABAIXO PERFIL COMPLETO DE BÁRBARA MELO, NOVA PRESIDENTA DA UBES

Do total de 2.209 votos, a chapa da nova diretoria da UBES “Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós” obteve 82% dos votos, totalizando voto de 1.815 delegados. Também participaram as chapas “Oposição de Esquerda”, com 313 votos, “Reconquistar a UBES”, com 36 votos e “UBES é pra Lutar” com 33. Foram somados apenas 4 votos brancos e 8 votos nulos.

O Congresso da UBES, que teve início no dia 28/11, reuniu, por três dias, 7 mil estudantes de todos os estados brasileiros nas cidades de Contagem e Belo Horizonte. Foram debatidos temas como passe livre estudantil, reforma política e gestão democrática. Além de emancipação feminina, combate ao genocídio da juventude negra e os desafios do ensino técnico.

A plenária final aprovou resoluções importantes como a permanente luta da entidade pela Reformulação do Ensino Médio, reforma radical no Estado brasileiro em defesa da democratização das mídias e a convocação da Jornada Nacional de Lutas 2014.


A FUNÇÃO AUMENTOU: UM PERFIL DE BÁRBARA MELO

No bom carioquês da juventude da zona oeste do Rio de Janeiro, cabe dizer que Bárbara Melo é uma menina “na função”. Aos 19 anos, moradora da região de Bangu, filha de um pai técnico em eletrônica e de uma mãe que gastou suor para conciliar o trabalho doméstico e um curso na faculdade de direito, a nova presidenta da UBES é bate-pronto, desembolada, na fita, disposição. Estudante do pré-vestibular e recém-formada no ensino técnico, em um curso de administração, ela acredita que a vida tem acelerado o passo no caminho que a levou, em apenas três anos, da disputa na quadrilha de festa junina da escola ao movimento do grêmio estudantil, posteriormente à presidência da Associação Municipal dos Estudantes do Rio de Janeiro (AMES) e agora ao posto máximo do movimento secundarista brasileiro. “Admito que dá um pouco de medo, mas tô aí”, sorri matando no peito.

A capacidade de encarar e se dar bem com grandes desafios está na biografia recente. Como estudante de uma escola pública tradicional do bairro de Marechal Hermes, aprendeu a improvisar em uma rotina envolvendo uma hora de ônibus para chegar à aula de manhã, outra hora de tarde para ir ao estágio na Eletrobrás, no centro da capital, e jogo de cintura para ainda participar das reuniões e “corres” do movimento estudantil na cidade. Trocar de roupa e se maquiar na estação de metrô, fazer refeição com a tradicional batata frita com bacon na região da escola ou vender bijuteria entre os amigos para fazer um extra foram apenas o começo.

O clima “na função” na vida de Bárbara aumentou e muito, a partir de 2012, quando já presidente da AMES tornou-se uma das mobilizadoras do Fórum de Luta contra o Aumento da Passagem no Rio. Totalmente envolvida com um dos temas mais importantes do movimento secundarista, o passe livre, viu o Fórum tornar-se, um ano depois, um dos nascedouros da histórica jornada de manifestações de junho de 2013, em todo o Brasil. Desde então não saiu das ruas e integra, hoje, a geração de jovens cariocas que tem emendado lutas após lutas, como a campanha do caso Amarildo, a greve dos professores municipais e a mobilização pela desmilitarização da polícia militar. Na suposta trincheira de oposição caricata entre black blocs de um lado e “coxinhas” de outro, ela aponta um caminho do meio:

“Não me incluo na tática dos black blocs, apesar de achar simbólico o fato de quebrarem, principalmente, os grandes bancos privados. Há uma mensagem nisso. Por outro lado, acho perigoso o discurso dos que gritam contra todos os partidos e contra as entidades do movimento social. É errado criminalizar a política no geral porque, inclusive, os que estão na rua são políticos. Fazer uma manifestação é um gesto político”, afirma. Entre as outras lutas que encampa estão a democratização dos meios de comunicação, o combate à homofobia e o conjunto das pautas feministas. Participante do movimento da Marcha das Vadias no Rio de Janeiro, ela acredita que os temas voltados às mulheres – principalmente as jovens – estão explodindo na cidade e no Brasil. Menciona os recentes casos de suicídio de duas jovens estudantes brasileiras, após terem vídeos envolvendo sua sexualidade expostos na internet: “O problema do chamado ‘revenge porn’ é urgente, precisa ser mais debatido dentro da escola e também pela UBES”, acredita.

No que diz respeito à educação pública brasileira, a grande bandeira da entidade, Bárbara espera que o movimento educacional passe a discutir, com mais afinco, qual é o papel do sistema de ensino na atualidade. “Comemoramos algumas vitórias como a conquista dos royalties do petróleo para a área da educação, mas precisamos saber como e onde esse recurso deve ser investido. Qual escola queremos?”, indaga. Ela enxerga a necessidade de reformas pedagógicas e estruturais no ensino médio, grandes reajustes salariais para a classe de professores, alterações curriculares, adequação de cada sistema de ensino às realidades locais das regiões brasileiras, o fortalecimento da democracia nas escolas e a valorização de órgãos como os conselhos escolares e os próprios grêmios estudantis que, em sua opinião, estão crescendo de forma marcante no país. “O estudante brasileiro, no geral, ainda acha a escola um saco, além de achá-la ruim, e a escola não se preocupa com os anseios desses jovens.”, aponta. Segundo ela, outra prioridade de sua gestão será a campanha pela reestruturação do ensino técnico, a busca por melhorias nos institutos federais e no projeto original do Pronatec, realizado pelo governo federal.

A pauta requer fôlego, mas ela se diz otimista para o ano de 2014, que envolve grandes eventos como as eleições e a Copa do Mundo no país. Terá que conciliar as viagens e responsabilidades da presidência da UBES com a sua preparação para a universidade, onde espera ingressar no curso de administração pública. “Estou me sentindo desafiada”, descreve. O sentimento é semelhante àquele que teve na primeira disputa do campeonato de quadrilha da escola, mas Bárbara sabe que, agora, não é ela que perde ou ganha. São todos os estudantes secundaristas brasileiros.
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