segunda-feira, 30 de agosto de 2010

CARTA DE EX-MORADORA DAS RUAS DE SP QUE ESTUDA EM CUBA


"Li em muitas revistas que o Fidel Castro é um ditador, e descobri em Cuba, que ele é amado e idolatrado pelos cubanos. Escrevem que Cuba é o país da miséria. Mas de que tipo de miséria eles falam? Interpreto como miséria o que passei na infância. Em casa, não tinha água encanada, luz, comida."

Reproduzo abaixo o depoimento da jovem Gisele Antunes Rodrigues, de 23 anos, ex-menina de rua de São Paulo, nascida em Ribeirão Pires, que deu a volta por cima e hoje está no terceiro ano de Medicina. Detalhe: ela estuda no Instituto Superior de Ciências Médicas de La Habana, em Cuba, onde estão matriculados outros 275 brasileiros.

O depoimento foi publicado no blog do jornalista Ricardo Kotscho. Emocionante e revelador.


Só mais uma brasileira

Por Gisele Antunes Rodrigues

Saí de casa com 9 anos de idade porque minha mãe espancava eu e meu irmão. Não tínhamos comida, o básico para sobreviver. Meu pai nunca foi presente. É um alcoólatra que só vi duas vezes na vida. Minha mãe é uma mulher honesta, mas que não conseguia educar seus filhos. Já foi constatado que ela tem problemas mentais.

Ela trabalhava como cigana na Praça da República. Quando eu fugi de casa segui esse caminho, e encontrei uma grande quantidade de meninos e meninas de rua. Apresentei-me a um deles, este me ensinou como chegar em um albergue para jovens, e a partir desse momento passei a ser menina de rua. Só comparecia nessa instituição para comer, tomar banho e ter um pouco de infância (brincar). No meu quinto dia na rua, comecei a cheirar cola e depois maconha.

Alguns educadores preocupados com a minha situação tentavam me orientar, mas de nada valia. Foi quando me apresentaram a uma religiosa, a irmã Ana Maria, que me encaminhou para um abrigo, o Sol e Vida. Passei uns três anos lá e deixei de usar dogras. Esta instituição não era financiada pelo governo. Quando foi fechada, me encaminharam a outros abrigos da prefeitura, entre eles o Instituto Dom Bosco, do Bom Retiro. E assim foi, até os 17 anos.

Para alguém que usa droga, não era fácil seguir regras. Foi por muita persistência e um ótimo trabalho de vários educadores que eu consegui deixar a drogas, sair da desnutrição e recuperar a saúde após anemia grave.

Na infância, era rebelde, não queria aceitar a minha situação. Apenas queria ter uma família. Mas havia algo que eu valorizava _ a escola e os cursos que eu fazia na adolescência. Aos 14 anos de idade, comecei a jogar futebol, tive a minha primeira remuneração. Aos 16 anos, entrei em uma empresa, a Ericsson, que capacitava jovens dos abrigos para o mercado de trabalho. Essa empresa financiou meu curso de auxiliar de enfermagem e o inicio do técnico. O último não foi possível concluir.

Explico: existe uma lei nas instituições públicas segunda a qual o jovem a partir dos 17 anos e 11 meses não é mais sustentado pelo governo, tem que se manter sozinho. Como eu não tinha contato com a minha família, quando se aproximou a data de completar essa idade, entrei em desespero.

A sorte foi que a entidade, o Instituto Dom Bosco Bom Retiro, criou um projeto denominado Aquece Horizonte. Este projeto é uma república para jovens que, ao sair do abrigo, podem ficar lá até os 21 anos. Os coordenadores e patrocinadores acompanham o desenvolvimento do jovem neste período de amadurecimento.

As regras mais básicas da república são: trabalhar, estudar e querer vencer na vida. No segundo ano de república, eu desejava entrar na universidade, mas sabia que não tinha condições de pagar a faculdade de enfermagem ou conseguir passar na universidade pública.

Optei então por fazer a faculdade de pedagogia. É uma área que me encanta, e a única que podia pagar. No primeiro semestre da faculdade de pedagogia, um educador do abrigo, o Ivandro, me chamou pra uma conversa e me informou sobre um processo seletivo para estudar medicina em Cuba. Fiquei contente e aceitei participar da seleção.

Passei pelo processo seletivo no consulado cubano e estou desde 2007 em Cuba. Dou inicio ao terceiro ano de medicina no dia 06 de setembro de 2010. São 7 anos no país, sendo 6 de medicina e um de pré-médico.

Ir a Cuba foi minha maior conquista. Além de aprender sobre a medicina, aprendo sobre a vida, a importância dos valores. Antes de ir, sempre lia reportagens negativas sobre o país, mas quando cheguei lá, não foi isso que vi. Em Cuba, todos têm direito a educação, saúde, cultura, lazer e o básico pra sobreviver.

Li em muitas revistas que o Fidel Castro é um ditador, e descobri em Cuba, que ele é amado e idolatrado pelos cubanos. Escrevem que Cuba é o país da miséria. Mas de que tipo de miséria eles falam? Interpreto como miséria o que passei na infância. Em casa, não tinha água encanada, luz, comida.

Recordo que tinha dias em que eu, meu irmão e minha mãe não conseguíamos nos levantar da cama devido a fraqueza por falta de alimento. Tomávamos água doce pra esquecer a fome. Então, quando abro uma revista publicada no Brasil e nela está escrito que Cuba é um país miserável, eu me pergunto: se em Cuba, onde todos têm os direitos a saúde, educação, moradia, lazer e alimento, como podemos denominar o Brasil?

Temos um país com riqueza imensa, que conquistou o 8º lugar no ranking dos países mais ricos, mas sua riqueza se concentra nas mãos de poucos, com uns 60 % da população vivendo em uma miséria verdadeira, pior que a miséria da minha infância.

Cuba sofre um embargo econômico imposto pelos estados Unidos por ser um país socialista e é criticado por outros governos. No entanto, consegue dar bolsa para mais de 15 mil estrangeiros de vários países, se destaca na área da saúde (gratuita), educação (colegial, médio, técnico e superior gratuito para todos) e esporte (2º lugar no quadro de medalhas, na historia dos Jogos Panamericanos), é livre de analfabetismo.

A cada mil nascidos vivos morrem menos de 4. Vivenciando tudo isso, eu queria também que o Brasil fosse miserável como Cuba, como é escrito em varias revistas. Acho que o brasileiro estaria melhor e não seria tão comum encontrar tantos jovens sem educação, matando, roubando e se drogando nas ruas.

Vou passar mais quatro anos em Cuba e não quero deixar o curso por nada. Desejo concluir a faculdade e ajudar esse povo carente que sonha com melhoras na área da saúde, quero ajudar outros jovens a realizar os seus sonhos , como me ajudaram. Também pretendo apoiar meu irmão, que deseja estudar direito.

Tenho meu irmão como exemplo de superação. Saiu de casa com 13 anos de idade, mas não foi para uma instituição governamental. Morou em um cômodo que seu patrão lhe ofereceu. Enquanto eu estudava e fazia cursos, ele estava trabalhando para ter o pão de cada dia. Hoje, ele é um homem com 25 anos de idade, casado e tem uma filha linda, e mesmo assim encontra tempo pra me apoiar e me dar conselhos.

Foi muito bom visitar o Brasil. Depois de longos 13 anos tive um tipo de comunicação com a minha mãe. Isso pra mim é uma vitoria. Quero estar próxima dela quando voltar.

Conto um pouco da minha história, mas sei que muitos brasileiros ultrapassaram barreiras piores, até realizarem seus sonhos. Peço ao povo brasileiro que continue lutando. É período de eleições, peço também que todos votem com consciência, escolha a pessoa adequada pra administrar o nosso país tão injusto.

Gisele Antunes Rodrigues Ser culto é o único modo de ser livre (José Martí)


Fonte: Blog Fatos Sociais

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

ÔNIBUS SAIRÁ DE PETRÓPOLIS PARA ACOMPANHAR DEBATE DE PRESIDENCIÁVEIS


Neste sábado, dia 07 de Agosto a UJS Petrópolis estará descendo com um ônibus para a Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, para participar do debate com os candidatos à presidência da república, organizado pela Cufa. O ônibus sairá às 11 horas da frente do Museu Imperial.

Leia abaixo o comunicado publicado no site da Cufa:

"A Central Única das Favelas convida os moradores da Cidade de Deus, a exemplo das eleições anteriores, a receber os presidenciáveis das eleições 2010.
Momento em que a comunidade poderá ouvir suas propostas e porque não, questionar seus problemas sociais, além de fazer suas contra-propostas.

É importante ressaltar que a CUFA pratica essa iniciativa há mais de 15 anos. E nesta mesma favela já recebemos Geraldo Alckmim , Luiz Inácio Lula da Silva , Fernando Gabeira , Eduardo Paes , Jandira Feghalli , César Maia e tantos outros que na época pleiteavam seus espaços políticos, sendo assim a CUFA convida para um encontro democrático estreitando a relação entre a favela e os candidatos a presidência no Brasil no Rio de Janeiro, em sua base da Cidade de Deus, na rua José Arimatéia, nº 90. Este ano teremos a presença dos presidenciáveis, até o momento já temos a confirmação das candidatas Marina Silva, Dilma Roussef, ambas, inclusive, publicaram abertamente, além de Plínio Sampaio. As duas inclusive publicaram abertamente em seus twitters oficiais que estarão presentes na CDD.

Os convidados foram:

Américo de Souza - ( A Confirmar )
Dilma Rousseff - ( Confirmado )
Ivan Pinheiro - ( Confirmado )
José Maria Eymael - ( Confirmado )
José Serra - ( A Confirmar )
Levy Fidélix - ( A Confirmar )
Marina Silva - ( Confirmado )
Mário de Oliveira ( A Confirmar )
Oscar Silva - ( A Confirmar )
Plínio A. Sampaio - ( Adiado por problemas pessoais)
Rui Pimenta - ( A Confirmar )
Zé Maria - ( Confirmado )"

ENTREVISTA COM IGOR BRUNO 65651


Conversamos com o candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro Igor Bruno, que falou sobre sua campanha e a trajetória no movimento estudantil.


Das trincheiras da UJS à Coordenadoria da Juventude do Rio de Janeiro, passando ainda pelas presidências da AMES, UBES e UJS-RJ e a criação do blog Fala Fera, Igor Bruno encara aos agora um dos maiores desafios de sua vida política: buscar a vaga na Assembleia pelo PCdoB e levar à pauta do Legislativo as demandas da juventude. Conheça abaixo um pouco mais da trajetória e das propostas desse carioca de 29 anos, que deixou um alerta importante para a corrida eleitoral: “Um problema dessa eleição é que grande parte da juventude não viu o governo de FHC, e é tarefa da nossa campanha estabelecer os parâmetros de comparação para convencer a essa galera a continuar mudando o Brasil.”

UJS - Conte pra nós um pouco das conquistas na Coordenadoria de Políticas Públicas para a Juventude.

Nossa atuação destacada nas eleições de 2008 foi predominante para a criação da Coordenadoria de juventude do Rio. Fui o primeiro coordenador de juventude da Cidade. É uma pasta nova, criada no atual governo, e como tudo que é novo, o projeto vem sendo implementado de forma positiva para atender os jovens da Cidade da melhor maneira possível. Já conseguimos muitas conquistas. Logo em 2009, aprovamos o espaço Sub 18, que é um local na Lapa destinado aos jovens de até 18 anos onde eles vão mostrar e curtir muita música, teatro e cultura em geral. Além disso, está em andamento uma pesquisa sobre a juventude carioca. Infelizmente, existe pouca base de dados sobre jovens, o que dificulta criar políticas públicas para esse público. Paralelo a isso, está sendo produzido um grande sítio de internet que será o INFOJOVEM, uma página de referência para a juventude. Dentre muitos projetos em andamento, estamos na luta para conseguir, junto com os estudantes, implantar a Meia Passagem para Universitários da rede pública e privada. Esse tema sempre foi tratado como prioridade pela Coordenadoria.

Destaque suas principais propostas para a juventude do Rio de Janeiro.

Tenho trabalhado prioritariamente com quatro eixos. O primeiro é implantar a Meia Passagem para estudantes universitários. Esta luta é uma reivindicação histórica do movimento estudantil. Acredito que com um mandato teremos mais força para acelerar as articulações e o trâmite desse projeto. Outro, também muito importante, é o Fundo Estadual do Pré -Sal para a educação e CT. Graças à aliança do presidente Lula com o governador Cabral, houve um avanço no quadro geral. No entanto, há que se ter mais investimentos em educação. Na educação estadual básica e no ensino superior (UERJ, UENF e UEZO), ainda existe uma insuficiência muita grande. Uma terceira prioridade da nossa candidatura é fazer uma grande campanha para eleger Dilma Presidenta do Brasil e continuar as mudanças iniciadas com Lula. Um problema sério dessa eleição é que grande parte da juventude não viu o governo de FHC. Veja bem, um jovem que hoje tem 18 anos, no inicio do Governo Lula tinha 10, ou um jovem que tem 23 hoje, há oito anos tinha 15, ou seja, uma parcela da galera jovem não tem muito parâmetro de comparação e é tarefa da nossa campanha fazer esta comparação e convencer o conjunto da juventude a continuar mudando o Brasil. Por último, queria destacar um elemento que temos dado bastante ênfase, que é a necessidade de se ter um parlamentar jovem, que represente a juventude. A ampla maioria dos jovens eleitos para algum cargo público só o são porque “o cara é filho de alguém” da política, ou neto, no exemplo baiano [de ACM]. Por outro lado, aqui na ALERJ, não existe nenhum deputado identificado com as lutas da juventude, ou seja, falta um parlamentar na Assembleia que encare os empresários de ônibus e aprove a Meia Passagem. Os movimentos da juventude precisam de representação parlamentar. Assim como os tubarões do ensino têm suas representações, os empresários disso e daquilo outro também o têm, o futebol tem seus parlamentares, os trabalhadores também tem os seus. Enfim, todos os setores organizados da sociedade têm seus representantes. Falta a juventude ter o seu e estou me propondo a cumprir mais essa tarefa.

Diante da Copa e as Olimpíadas, essas últimas em especial no Rio, quais as tarefas da Assembleia para que os benefícios oriundos desses eventos sirvam a toda população?

O Programa da candidatura aborda esse tema dando ênfase, primeiro, na necessidade de desenvolver ainda mais o Rio de Janeiro. Nosso Estado, em especial a Região Metropolitana, foi partido, mal planejado e sofre com graves questões estruturais. Os transportes públicos são o caos total. Um trabalhador que mora na Zona Oeste ou na Baixada pode demorar até 3 horas para chegar ao trabalho no centro do Rio. Temos apenas duas linhas de metrô e o trem que corta o Subúrbio e a Baixada ainda é muito precário. Só para lembrar: Barcelona, quando sediou as Olimpíadas, aproveitou o evento para ampliar suas linhas de metrô de dois para 18. Por outro lado, temos que planejar como a juventude pode usufruir de tudo isso. Uma das propostas da candidatura é que onde tenha investimento público direto, haja um percentual obrigatório de geração de emprego para jovens recém-formados e um percentual obrigatório de estagiários. Se juntarmos o investimento que será feito com a exploração do Pré-Sal com os investimentos da Copa e das Olimpíadas, são bilhões de reais, e a juventude precisa ser contemplada nesse conjunto de ações.

Você tem uma forte presença na internet e isso cria um vínculo especial com os jovens. Suas propostas de campanha prevêem a utilização desses canais de comunicação para incentivar a participação da juventude na elaboração de políticas públicas?

Com certeza. Aqui no Rio, fui pioneiro quando criei o www.falafera.net, que é um canal de comunicação da juventude. Quando estávamos pensando em criar um blog, pesquisamos diversos canais de busca da internet e constatamos que não existia nenhum espaço na rede preocupado em dialogar com a juventude. O projeto Fala Fera se mantém mesmo com as eleições e dia a dia, crescendo em número de acessos. Neste canal, falo com a galera de forma diferenciada. Converso sobre diversos temas entre política e questões do cotidiano. O papo é sempre descontraído. Levo ao blog alguns questionamentos e desta forma trago o jovem para debater políticas públicas e exercer sua cidadania. Defendo a democratização da internet de qualidade, pois este mundo virtual, nos dias de hoje, é essencial na vida do cidadão. Penso que a juventude pode participar da política de diversas formas e, para que isso aconteça, é preciso que se tenha garantido o acesso à internet de qualidade e que chegue aos mais diversos lugares.

O que você consideraria como sua maior realização política?

Passei na minha militância por grandes desafios. Em 2002, quando aprovamos as Cotas, eu era presidente da AMES Rio e todos duvidavam da viabilidade dessa proposta. Naquele episódio, tivemos grande parcela de responsabilidade no convencimento da Nilcéia (Nilcéia Freire, hoje Secretaria Especial de Mulheres do Governo Lula). Convencemos ainda grande parte da Assembleia, aprovamos o projeto e desde 2003 as Universidades Estaduais têm reserva de vagas para estudantes de escolas públicas e negros. Mas minha maior realização política foi conseguir unificar a juventude e empolgar a UJS com a ideia da candidatura. Sem dúvida, fazer uma campanha dessa, com uma galera alegre, politizada e legal, que milita com muita abnegação dia e noite, é uma realização e tanta.

Qual a importância da sua militância no movimento estudantil e na UJS para sua formação política?

Quanto mais penso no que dizer sobre essa pergunta, mais considero minhas palavras insuficientes para descrever o papel que a UJS teve na minha formação. A UJS, com sua grande influência no movimento estudantil, foi e ainda é uma grande experiência para mim! Foi na UJS que me tornei um militante político. Todos que por aí passaram têm em mente a certeza que a UJS é como uma escola. Pra mim foi muito mais! Foi nessa organização que passei a entender o real funcionamento do capitalismo, abrindo minha visão para os problemas do mundo real, assim como para a necessidade de se superá-lo através do Socialismo. Consegui entender na UJS a necessidade de lutar pelos objetivos mais nobres da juventude e a valorizar os princípios da militância cotidiana.
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