sexta-feira, 26 de julho de 2013

André Tokarski: A juventude quer participar das decisões


André Tokarski, presidente da UJS

 Em entrevista para o especial O grito das ruas em disputa, da revista Princípios (Editora Anita Garibaldi), o presidente da União da Juventude Socialista (UJS), André Tokarski analisa as manifestações de junho, que sacudiram o país, quando milhares de jovens ocuparam aas ruas do país para exigir “as reformas democráticas que ofereçam igualdade de oportunidades e justiça social a todo o povo e à juventude, com educação, saúde, trabalho decente, segurança e transporte público de qualidade”, reforça.

Para Tokarski, “a juventude quer ser ouvida e quer participar do processo de decisão das principais pautas do país”. Assegura também que “a militância da UJS é parte das centenas de milhares de jovens manifestantes”, para ele, “as manifestações deixam claro que o Brasil possui uma energia democrática viva e forte”. Com na música É de Gonzaguinha: “É!/A gente quer viver pleno direito/A gente quer viver todo respeito/A gente quer viver uma nação/A gente quer é ser um cidadão (…)A gente quer valer o nosso amor/A gente quer valer nosso suor/A gente quer valer o nosso humor/A gente quer do bom e do melhor…” (Redação). Abaixo os principais trechos da entrevista:

Posição da UJS diante das manifestações.

A militância da UJS é parte das centenas de milhares de jovens manifestantes que tomaram as ruas do país no mês de junho. As manifestações deixam claro que o Brasil possui uma energia democrática viva e forte, e essa energia se expressa na força que a juventude demonstra a tomar as ruas e lutar por nossos direitos.

Diferente da Europa, em crise, onde os jovens hoje lutam para não perder direitos já conquistados, a nossa luta no Brasil é para conquistar mais direitos. A UJS enxerga nesse momento de intensa participação política, em especial da juventude, uma grande oportunidade para realizarmos as reformas democráticas que ofereçam igualdade de oportunidades e justiça social a todo o povo e à juventude.

Já conquistamos muito nos dez anos de governo Lula/Dilma. Acabamos de aprovar no Congresso Nacional o Estatuto da Juventude. É uma conquista histórica, mas à medida que se consolidam conquistas, queremos avançar mais.

No meio da profusão de pautas que apareceram nas ruas, uma coisa é certa: a juventude quer ser ouvida e quer participar do processo de decisão das principais pautas do país.

O Movimento Passe Livre (MPL), as manifestações e a UJS.

O MPL foi, sem dúvida, o principal articulador e protagonista da luta pela redução da tarifa do transporte público na cidade de São Paulo, mas essa luta ultrapassou tanto as fronteiras da cidade, ganhando as ruas de todo o país, quanto também não se limitou à pauta do valor da passagem.

A pauta do transporte foi o catalisador que desencadeou essa onda de protestos mas, como todos vimos, bandeiras como a defesa da educação e saúde de qualidade, o combate à corrupção e a reforma política também foram pautas dos protestos.

A UJS não participa do MPL, mas nos somamos aos companheiros do MPL nas ruas há bastante tempo, nas lutas contra os preços abusivos do transporte coletivo e na defesa do passe livre estudantil, bandeira que defendemos há bastante tempo.

Presença das entidades estudantis nas reivindicações.

As manifestações na foram de ninguém e de todos ao mesmo tempo. As entidades estudantis participaram ativamente das mobilizações. Muitas das pautas defendidas nas ruas sã defendidas também pelas entidades estudantis.

A grande imprensa circulou versão de que a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), por exemplo, estavam fora das passeatas. É uma grande mentira. A própria presidenta da UNE, Vic Barros, participou das primeiras manifestações em São Paulo contra o aumento da passagem quando o movimento não tinha ganhado toda essa dimensão.

Foi fruto da atuação das entidades estudantis que conquistamos mais de um milhão de estudantes Prounistas, mais de 240 institutos federais de ensino superior e tecnológico. A reserva de vagas em universidades federais para negros e estudantes de escolas públicas virou realidade. Nesse mesmo período foram criadas dezenas de universidades federais, fruto dessa luta, mais que dobrou o número de vagas nas universidades federais brasileiras.

O Congresso Nacional está próximo de aprovar a destinação dos recursos do petróleo e do fundo social do pré-sal para a educação, bandeira esta que foi apresentada à presidenta Dilma e aos parlamentares pela União Nacional dos Estudantes. Na realidade, talvez estejamos vivendo o período mias vitorioso da UNE nas pautas educacionais.

A UJS nas redes sociais.

A UJS já participa dos movimentos nas redes sociais. No ano passado realizamos o nosso 16º Congresso Nacional que teve como chamada: “Nas redes e nas ruas, lutando pelo Brasil dos nossos sonhos”. A UJS está atenta

E aberta à participação da juventude nas redes. Essa é uma realidade e cm a ampliação d acesso à internet em nosso país tende a ter papel cada vez mais importante nas lutas da juventude.

Bandeiras e hostilidades.

Em todas as passeatas participamos levando nossas bandeiras e as nossas propostas. A UJS na foi hostilizada em nenhuma manifestação, mas sem dúvida houve uma reação agressiva e antidemocrática a pessoas que portavam bandeiras de partidos em algumas manifestações.

Há tempões a grande imprensa vem associando a atividade política unicamente a coisas ruins, para algumas pessoas já virou quase sinônimo “política” e “corrupção”. Por outro lado, a sociedade já não se vê mais representada pelas instâncias de poder no país. Há uma grave distorção a representação política e em especial no parlamento. O Brasil ainda vive uma espécie de onda jovem. Somos 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos e quando olhamos o Congresso Nacional reconhecemos poucos representantes que se identificam de fato com as ideias e demandas da juventude.

Isso gera uma descrença com as instituições tradicionais da política. Nesse sentido, o debate sobre a reforma política ganha muita relevância. A juventude quer ser ouvida e quer participar do processo de decisão das principais pautas do país.

Os cinco temas apresentados pela presidenta Dilma.

Acredito que a presidenta apresenta uma agenda positiva e progressista para país. Precisamos aproveitar a força das mobilizações de rua para finalmente realizar as reformas democráticas que o Brasil precisa para atingir um novo patamar de desenvolvimento e democracia.

A democratização dos meios de comunicação ficou fora das pautas propostas pela presidenta, mas está entre as nossas prioridades. A UJS vai reforçar a coleta de assinaturas do Projeto de Lei de Iniciativa Popular que propõe democratizar o sistema de radiodifusão no país. A meta é colher 1,5 milhão de assinaturas.

As lições para a UJS e para os movimentos sociais.

As manifestações de junho deixam lições importantes para toda a sociedade, não só para s movimentos sociais. Revelam que aumentou a consciência e o grau de exigência do povo, em especial da juventude. Reafirma mais uma vez que o povo na rua é o principal combustível das transformações e que o movimento social precisa estar aberto a se atualizar e se renovar para ter a capacidade de organizar essas milhares de pessoas que saíram às ruas e querem lutar por um Brasil melhor.

Nenhum comentário:

Utilizadores Online