quinta-feira, 4 de julho de 2013

Nota de repúdio da UJS à declaração de Paulo Bernardo, à revista Veja


Na última semana, em entrevista à Revista Veja, fez uma afronta a todos os cidadãos e movimentos sociais que defendem que seja feita uma regulamentação na mídia, para que as telecomunicações passem a ser democráticas, dando voz às minorias, respeitando as diversidades e pluralidades e, sobretudo, rompendo o monopólio dos meios de comunicação.

Na entrevista, ao falar sobre a regulamentação da mídia, Bernardo assim pontuou: “É a militância que extrapola, e eu posso dizer que está errada, que está falando besteira. Se ela não gosta da capa da revista, da manchete de jornal, quer que eu faça regulação. Isso não existe. Não vai ter regulação para isso“, foi categórico, o ministro.

Muito nos surpreende ele justificar seu posicionamento usando a página de “uma revista ou manchete de jornal”, sabendo ele que, a Lei da Mídia Democrática não atende pelos impressos, e sim para a regulamentação das televisões e rádios do país. E nem ao menos estamos propondo uma nova Constituição, e sim pedindo para que sejam respeitados e cumpridos os artigos 5, 220, 221, 222 e 223 da nossa Constituição – que, cabe destacar, proíbe oligopólios e monopólios no setor.

A UJS, desde sua fundação, tem como cerne, a defesa pela liberdade de expressão e a luta pela democracia. Pedir para que o negro, a mulher, o índio, o pobre, o gay, o jovem, e tantos outras minorias tenham sua representatividade respeitada na mídia não significa extrapolar, ou censurar. Pelo contrário, é mostrar que por trás dos estereótipos, criados por uma elite branca, conservadora e retrógrada, existem seres humanos iguais a todos os demais, não inferiores ou piores.

A extrapolação que esses grupos sofrem na nossa mídia é que devem ser barradas. Não podemos admitir que o negro ainda seja representado sempre como o escravo, o serviçal, o bandido; a mulher sirva apenas como símbolo sexual, em propagandas de cerveja e submissa ao homem – nas telenovelas; assim como temos que repudiar toda aberração que usam para representar os gays.

Quanto aos movimentos sociais – que nós, da UJS, podemos afirmar por experiência própria – estão sendo cada vez mais marginalizados pela mídia. Quando ocupamos as ruas, não estamos fazendo passeata com o intuito de “atrapalhar o trânsito”, conforme os noticiários sempre comunicam.

Nossas manifestações são pautadas nas melhorias para a sociedade brasileira. Raras vezes os motivos pelos quais estamos reivindicando sã expostos ao povo, e nem ao menos nos é dado o direito do microfone, o direito à voz, a expor nossa inquietação. Isso pode ser facilmente comprovado nas recentes manifestações ocorridas pelo país, quando defendemos a revogação das tarifas e cobramos um transporte público de qualidade, e o que os telejornais comunicavam é que éramos um bando de vândalos, destruindo a cidade, causando um trânsito caótico.

Com isso, a mídia marginaliza cada vez mais as ações dos movimentos sociais, colocando-nos como baderneiros. O mesmo ocorre também com os movimentos estudantis ou qualquer força que vise cobrar por mais direitos, por igualdade, por democracia, e utilize a rua – espaço público e democrático – como palco de sua reivindicação.

Os meios de comunicação devem prestar serviço ao povo, à população. Contudo, com o atual panorama que temos, vemos que isso não ocorre. Não é segredo que seis famílias detém o monopólio da nossa mídia. Esses barões são empresários milionários, que direcionam as empresas de comunicação aos seus interesses políticos, partidários e mercadológicos. Logo, é através destes interesses que vemos a elite branca sempre imperando sobre os negros, e pobres – o que podemos considerar como uma repaginação moderna da antiga escravidão.

Extrapolar é permitir que grupos que estão à margem da sociedade, fiquem cada vez mais vulneráveis à violência, à intolerância, ao preconceito. É fazer com que a cultura elitista das regiões Sudeste e Sul sejam ingeridas a todas às demais. É ocultar que o Norte, Nordeste e Centro-Oeste também são parte deste país, e suas culturas, tradições, assim como seus problemas, desafios também compõem esse Brasil rico em diversidade, em pluralidades.

Citamos aqui exemplos que estão atrelados com as camadas sociais. Mas caso ainda fique alguma dúvida, podemos também rapidamente falar como a mídia manipula as informações para beneficiar os políticos de direita, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o Governador de São Paulo – Geraldo Alckmin, e em contrapartida, tenta denegrir a imagem dos líderes que revolucionaram a vida do povo brasileiro, dando-lhes mais oportunidade de inclusão social: o ex-presidente Lula e a atual chefe do Estado – Dilma Rousseff.

Esses são apenas alguns dos argumentos que pontuamos para mostrar que nossa luta pela democracia na mídia não é nenhuma “besteira”. É uma emergente necessidade para ampliarmos a democracia no país, rompendo a ditadura dos barões. Precisamos de uma mídia que seja reflexo da sociedade, e não uma que manipule, oculte e sobretudo, que impeça a liberdade de expressão do povo brasileiro.

A UJS repudia toda declaração e posicionamento do ministro Paulo Bernardo, e comunica que não nos intimidaremos com essa postura. Estamos com a Frente Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC) e com todos os movimentos que defendem a democracia na nossa mídia, juntos colheremos 1,4 milhões de assinaturas, para fazer com que o Projeto de Lei de Iniciativa Popular de Lei de Mídia Democrática seja votado no Congresso Nacional.

Seríamos “bestas” se assistíssemos inertes a toda essa “extrapolação” da mídia e dos seus barões. Se aceitássemos isso, não estaríamos honrando a todos os grandes guerreiros, que afrontaram a ditadura militar para nos fazer valer o direito à democracia. E é por ela e por nosso histórico de lutas que vamos continuar avante, em busca da liberdade de expressão. Nos vemos nas ruas!

UJS, presente!

São Paulo, 02 de Julho de 2013

União da Juventude Socialista

Nenhum comentário:

Utilizadores Online