quinta-feira, 4 de julho de 2013

Sobre a Classe Média: Perdoe-os! Eles não sabem o que fazem



O início das manifestações populares e, sobretudo, a forma como elas se agigantaram na segunda semana, tem sido alvo de constantes debates e teorias acerca de como e porque tudo isso tem acontecido e ainda não houve diagnóstico consensual de como tudo começou.

Tenho que o grande mote para esses acontecimentos foi a truculência da PM de São Paulo que feriu muita gente no grande primeiro dia de manifestações. A mídia fez o de sempre: condenou os “baderneiros”. No dia seguinte, a mesma coisa aconteceu, mas dessa vez repórteres da Folha foram feridos. Ai a imprensa mudou de lado o que inchou os noticiários e portais da internet, que agora apareciam cheios de indignação. Isso foi a gota d’água para inflamar a população. E percebendo isso,rapidamente a mídia colocou a pauta das manifestações, ceifando lideranças do movimento social e dando espaço apenas para o Movimento Passe Livre, que se diz apartidário. Em questão de horas as pessoas começaram a gostar de política, ter opinião sobre todos os assuntos e condenar o meio político de tudo o que é ruim, e em nenhum momento, lembrou-se dos avanços da última década. Claro, a cobertura foi altamente tendenciosa, a qual tem como ponto enigmático o defensor da moral Arnaldo Jabor com o seu bordão “Povo brasileiro, eu me enganei”.

As passeatas do dia 20 (a grande quinta-feira) eram compostas por pessoas das mais variadas, mas com uma característica muito marcante: grande parte delas nunca saíra as ruas na vida, muitos adolescentes e jovens que viram nesta possibilidade a oportunidade de fazer alguma coisa pelo Brasil. O povo de repente questiona mais e seria um erro achar que as redes sociais não tiveram papel importante nesses acontecimentos.

E as pautas: educação, saúde e transporte de qualidade; Copa do mundo é jogar dinheiro fora; fim da corrupção; mensaleiros na cadeia; Joaquim Barbosa é o grande estandarte da ordem e da honestidade; e partido não só serve pra roubar e não faz anda.

As três primeiras pautas são facilmente defensáveis não sendo preciso um longo debate sobre elas. Agora os demais mostram quem realmente ainda dá o tom das manifestações: a grande mídia brasileira. Se houvesse uma pesquisa perguntando o que era a tal da PEC 37, certamente um número ínfimo de pessoas saberia responder com alguma exatidão. Alguém percebeu que tudo começou por conta do Governador de SP e no fim, o culpado de todas as mazelas ficou sendo o Governo Federal? E a quem serve gente na rua sem organização, sem pauta, sem direção a não ser promover desgaste?

A maioria das pessoas, que participaram das passeatas, no íntimo são pessoas de bem. Gente que trabalha, que estuda, que realmente quer ver um país melhor. Mas a maior dificuldade é que essas pessoas não entendem claramente como o mundo da política funciona e o jogo de interesses que permeia orientar as direções do país. Além de que a situação é, em grande medida, reflexo de anos e anos de desgovernos. Elas realmente acham que existem vários projetos de país, enquanto na verdade, hoje, só existem dois: o da direta conservadora e o das forças progressistas. Estas mesmas pessoas não me parecem defensores do capital privado, das grandes privatizações ou da mídia. Mas o jogo no qual estão entrando as leva exatamente a essas bandeiras.

E isso não tem a ver com classe social ou nível educacional. Como dito, muitas pessoas de bem acham de verdade que o problema que existe nos dias atuais é o PT corrupto que desvia verba e só. Que bolsa é esmola e (vejam!) até já encontramos defensores até de que os que a recebem não tenham direito a votar, pois é a política do pão-e-circo!

E ai pergunto: da onde saiu toda essa pauta?

Do mesmo lugar de sempre: a imprensa oficial e golpista. E o pior é que essas pessoas não conseguem perceber que estão fazendo o jogo da mídia. Acham que porque viram a informação no UOL, ou IG, ou TERRA, estão livres da Globo! O grande grito de “partido político não me representa” e “politico é tudo ladrão” só serve a um lado: o conservadorismo que não ecoa nos movimentos sociais e desde sempre procuram criminalizar quem sempre esteve na rua. É o tal do “gigante acordou”.

As manifestações promoveram avanços rápidos em diversas áreas, e mostraram o poder do povo na rua. Mas acredito que a classe média na verdade não percebe que está sendo massa de manobra em boa parte das coisas que eles realmente defendem como sendo avanços, mas que não passa de fazer um grande favor a quem quer manter o status quo da sociedade, tal qual ela se encontra. E são esses os verdadeiros empecilhos das mudanças que nós brasileiros queremos. A mídia golpista, parcial e comprada ainda é o maior inimigo do povo.

Por: Hugo Valadares

Fonte: UJS Nacional

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