sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Como mudar o mundo?

Estudar o marxismo para mudar o mundo, sugere Hovbsbawm

No livro Como Mudar o Mundo: Marx e o Marxismo, Eric Hobsbawm, 1 ano antes de falecer, conta a história do marxismo e mostra como as ideias de Karl Marx e Friedrich Engels no século 19 permanecem atuais no século 21. Como reconhece até o magnata russo George Soros, para quem “devemos prestar atenção” ao marxismo. Obviamente que Soros não pretende aderir, mas compreender o marxismo para com isso tentar solucionar a crise que o m undo capitalista deflagrou em 2008. Nesse período muita gente correu às livrarias atrás de livros de Marx e Engels.

O historiador marxista britânico, nascido no Egito (ainda colônia britânica), mostra como o pensamento marxista explica as transformações da humanidade e, mias do que isso, o livro traz toda a dificuldade de se divulgar as ideias e os estudos de Marx desde o tempo em que ele o fazia. Para Hobsbawm, antes de Marx, “os filósofos consideraram o homem em sua totalidade, mas ele foi o primeiro a apreender o mundo com um todo que é ao mesmo tempo político, econômico, científico e filosófico”. Além do que, explica o historiador, “o marxismo foi parte de uma tendência geral para a integração da história às ciências sociais e, em particular, para ressaltar o papel fundamental dos fatores econômicos e sociais nos fatos políticos e intelectuais”.

Hobsbawm divide o desenvolvimento da divulgação do marxismo em três períodos. No primeiro, os pensadores alemães enfrentavam dificuldades imensas. O mundo conhecido de então tinha grande parte de sua população no meio rural. Com a chegada do capitalismo e a Revolução Industrial, a classe trabalhadora era submetida a extensas jornadas de trabalho, mas ainda não conheciam bem o marxismo pelas dificuldades impostas à sua divulgação. Marx era comumente expulso de países e foi exilado em local precário em Londres, por isso, enfrentava dificuldades financeiras, o que atrapalhava seu trabalho. Nas ideias, afirma Hobsbawm, as dificuldades impostas à divulgação do marxismo ocorriam porque “sempre criticara o materialismo mecânico e determinista que constituía a base da ciência do século 19″.

Nesse primeiro período, o “advento de partidos socialistas e operários de orientação mais ou menos marxista em vários momentos na década de 1880 e começo da de 1890, e principalmente o enorme salto avante desses movimentos nos cinco ou seis anos da Internacional”, o debate central girava em torno de atingir as pessoas e mostrar-lhes a possibilidade de um mundo novo. “Na época de Marx e Engels, e no entender deles”, explica, “o fundamental era transformar o movimento operário em um movimento de classe”.

A Revolução Russa de 1917 marca o início do segundo período, por significar a primeira tentativa de se construir um país socialista. Para Hobsbawm, “a Revolução Russa transformou de várias formas a publicação das obras clássicas” de Marx e Engels de tal forma que a penetração e a influência do pensamento marxista se difundiram muito mais pelo mundo. O fato, para ele, correspondeu a um “renascimento da esquerda revolucionária” meio deixada de lado em algumas décadas passadas. Pela primeira vez tinha-se a possibilidade de discutir com agir estando no poder. Isso acarretou diversas discussões sobre os futuros encaminhamentos dos partidos d emassa, essencialmente os marxistas sobre como construir o Estado socialista
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A Revolução russa trouxe grandes embates sobre o desenvolvimento e a transformação do marxismo dentro da nova realidade, mas também evidenciou “uma intelligentsia antimarxista”, define Hobsbawm, para quem, ao mesmo tempo, crescia uma tendência revisionista apegada ao “medo do comunismo” que os setores conservadores defendiam. Os reformistas acreditavam na necessidade de desenvolver o capitalismo em toda sua plenitude para, somente depois disso, buscar o poder, numa conciliação de classes par a passagem ao socialismo
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Predominava, segundo Hobsbawm, nos meios intelectuais uma visão de classe média em detrimento de uma visão proletária do mundo, aferrando-se a princípios básicos, sem compreensão da realidade objetiva. Mas “a radicalização dos jovens intelectuais”, assegura ele, “não só fez crescer a presença intelectual marxista e o interesse público por textos marxistas como também proporcionou um mecanismo de sua reprodução” e divulgação. E ainda nesse período na Segunda Guerra Mundial, a luta contra o fascismo uniu as forças democráticas de todos os matizes e os comunistas tiveram grande destaque nas lutas de resistência, porque ” a derrota do fascismo era, afinal de contas, uma questão de vida e morte até para os revolucionários mais empenhados”, acentua.

Os anos 1980-90 marcam o início do terceiro período descrito por Hobsbawm, principalmente coma queda do Muro de Berlim em 1989 e a derrocada do socialismo no Leste europeu e o fim da União Soviética, causando grandes prejuízos. aos comunistas revolucionários. “A queda da União Soviética e do modelo soviético foi traumático não só para os comunistas como também par todos os socialistas, quando (…), com todos os seus defeitos patentes, for a única iniciativa que lograra realmente construir uma sociedade socialista”. Com isso os capitalistas sentiram-se mais confiantes em atacar os movimentos de trabalhadores e de esquerda em todo o mundo. Mas com o seu equivalente à queda do Muro de Berlim, acentua Hobsbawm, a crise de 2008 trouxe à tona novamente a questão de estudar e compreender o marxismo.

Nesse período a questão do meio ambiente ganhou inúmeros defensores que passaram a criticar o marxismo por não tratar do assunto. Tese furada, explica o historiador britânico, porque para Marx “o homem, ou melhor, os homens executam trabalho, isto é, criam e reproduzem sua existência na prática diária, respirando, buscando alimento, abrigo, amor etc. Fazem-no atuando na natureza, tirando da natureza (e, às vezes, mudando conscientemente a natureza) para essa finalidade. Essa interação entre o homem e a natureza é, e produz evolução social”, portanto, “o progresso, é claro, pode ser observado no fato de o homem tornar-se progressivamente. independente da natureza, que ele controla cada vez mais”. O que se contrapões à destruição do meio ambiente efetuada pelo sistema capitalista na busca desenfreada de lucros.

Hobsbawm conclui que “Marx é hoje, mais uma vez, e com toda justiça, um pensador para o século 21″. E ressalta que “uma coisa mudou pra melhor” de qualquer forma porque “redescobrimos que oi capitalismo não é solução, mas o problema”.
Por Marcos Aurélio Ruy
Fonte: UJS Nacional

Livro:
Eric Hobsbawm, Como Mudar o Mundo: Marx e o Marxismo, Companhia das Letras, 2011.

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