terça-feira, 6 de agosto de 2013

Onde está Amarildo? Comissão da Verdade e velha mídia

Campanha pelo paradeiro de Amarildo ganha o mundo

Sinais dos tempos. Até a “poderosa” Rede Globo teve que se curvar à campanha lançada nas redes sociais e que ganhou as ruas sobre o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza após ele ser levado por uma viatura da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio de Janeiro. Ninguém mais viu o ajudante de pedreiro desde o dia 14 do mês passado, quando ele foi levado para prestar depoimento numa delegacia, segundo relatam os policiais. Mesmo que os apresentadores do Jornal Nacional William Bonner e Patrícia Poeta noticiaram o fato um tanto quanto constrangidos. A Patrícia quase perguntou: “onde está Amarildo?”, mas freiou seu ímpeto.

Talvez a emissora carioca queira apagar as acusações recentes de sonegação fiscal que lhe são imputadas, mas de qualquer foram viu-se obrigada a noticiar, o que não faria em outra situação.

Quando se poderia imaginar que um trabalhador pobre, negro, favelado pudesse angariar solidariedade nas redes sociais e com essa força ganhar as ruas e até os barões da mídia fossem forçados a se render a isso. A campanha Onde está Amarildo?, lançada pela ONG Rio da Paz juntamente com o blog Repórter de Crime, por meio do Twitter já virou febre. Os meios de comunicação tradicionais se curvaram também às redes sociais e à voz das ruas desta vez.

Ontem (1º) os moradores da favela da Rocinha e diversos outros movimentos fecharam ruas no Rio de Janeiro para levar o questionamento sobre o paradeiro do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, de 47 anos. Pobre, negro, favelado. Foi visto pela última vez sendo levado por uma viatura da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) carioca no dia 14 do mês passado. Até agora ninguém sabe de seu paradeiro.

A maior novidade é que os poderosos da mídia tiveram que se render a essa campanha em favor de respostas sobre o desaparecimento de um trabalhador, pobre, negro e favelado. Coisa muito rara neste país. Quem não se lembra que há pouco tempo atrás o apresentador da Banda Boris Casoy reclamou sobre a manifestação de feliz ano novo de garis, de modo preconceituoso. Além de os negros, pobres, moradores da periferia aparecer nos noticiários em acontecimentos policiais ou desastrosos.

A presença massiva da juventude nas ruas país já conquistou mudanças significativas e até alguns avanços importantes. A começar pela atitude da presidenta Dilma Rousseff que chamou os movimentos sociais, de jovens, estudantis e sindicais para o diálogo e propôs cinco pactos fundamentais pra o país avançar, aperfeiçoando a democracia.

Além do poder público, as coisas estão mudando no Brasil. Óbvio que as manifestações não vêem de hoje. A União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), a UJS e outras entidades se manifestam há muito tempo para conquistarmos o Brasil de nossos sonhos. A voz das ruas, porém, ganhou ênfase a partir de junho com os protestos iniciais contra os aumentos de passagens do transporte coletivo.

Mas “é possível, em princípio, tomar o conjunto de manifestações que se espalha dia-a-dia no Brasil como a elevação coletiva de um desejo de simbolizar algo que no mundo capitalista contemporâneo trata de sufocar dia-a-dia”, afirma o professor de literatura brasileira Alexandre Pilati. Mas acentua a necessidade de tudo se “transformar em ato político organizado” para que não sejam cooptados.

A campanha Onde está Amarildo? Significa uma importante retomada do quesito solidariedade de classe, onde se vê novamente estudantes se unindo à classe trabalhadora para quem sabe alavancar mudanças mais profundas na sociedade brasileira.

A Comissão Nacional da Verdade implantada o ano passado vem lutando para conseguir encontrar ossadas de centenas de desaparecidos políticos e muito ml e porcamente conseguem espaço na velha mídia. Cabe lançar campanha na internet também: onde estão todos os “desaparecidos” do país. Onde estão os mortos da Guerrilha do Araguaia? Essa respostas precisa vir à tona para o Brasil virar mais uma página de sua história e mostrá-la a todos os cidadãos brasileiros. Assim como Amarildo, quantos “amarildos” continuam desaparecidos no país e quantos não somem misteriosamente todos os dias por uma polícia ainda militar, repressiva e inóspita.

Por Marcos Aurélio Ruy
Fonte: UJS

Nenhum comentário:

Utilizadores Online