segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A Rede Globo e os Bônus de Volume, Tudo a Ver!


Líder na arrecadação de verbas publicitárias entre todos os meios de comunicação, a Globo também mostra sua força em cifrões. Somente em 2012, os canais de TV (abertos e por assinatura) das Organizações Globo arrecadaram R$ 20,8 bilhões de reais em anúncios, segundo informe divulgado pela corporação.



Mais de 16 milhões de comerciais por ano e um relacionamento com 6 mil agências. Esse é um resumo do desempenho da Rede Globo junto ao mercado publicitário brasileiro, orgulhosamente exibido na página de internet da emissora.

Por trás dos números, porém, se esconde uma prática que os grandes grupos de mídia preferem ocultar: o pagamento das Bonificações por Volume (BV), apontado por especialistas como um dos responsáveis pelo monopólio da mídia no país.

Monopólio

Desconhecidas pela grande maioria da população, as Bonificações por Volume são comissões repassadas pelos veículos de comunicação às agências de publicidade, que variam conforme o volume de propaganda negociado entre eles.

A prática existe no Brasil desde o início da década de 1960. Criada pela Rede Globo, seu objetivo seria oferecer um “incentivo” para o aperfeiçoamento das agências. Com o tempo, outros veículos aderiram ao mecanismo, que hoje é utilizado por todos os conglomerados midiáticos no Brasil.
O pagamento dos bônus, no entanto, é alvo de críticas de militantes do direito à comunicação, que argumentam que a prática impede a concorrência entre os meios de comunicação na busca por anunciantes. Isso porque, quanto mais clientes a agência direcionar a um mesmo veículo, maior será o seu faturamento em BVs.

Para o professor aposentado daUniversidade de Brasília (UnB) Venício Artur de Lima, a prática fortalece os grandes grupos, já que leva anunciantes aos meios que recebem publicidade. “Exatamente por terem um volume alto de publicidade é que eles [meios] podem oferecer vantagens de preço”, explica.

O resultado desse processo, segundo o professor, é a dificuldade de sobrevivência dos veículos de menor capacidade econômica, que não têm recursos para as bonificações. “Você compara um blog ou um portal pequeno com um portal da UOL, por exemplo. Não tem jeito de comparar, são coisas desiguais”, afirma.

Antes restrita às mídias tradicionais, as bonificações vão ganhando novos nichos. De acordo com agências de publicidade e com o presidente do Internet Advertising Bureau (IAB), Rafael Davini, atualmente o Google também utiliza BVs. Segundo informações do mercado, o Google seria hoje o segundo grupo em publicidade no Brasil, ficando apenas atrás da Rede Globo.

Líder em BVs

O exemplo mais forte da relação entre bônus e concentração, para o jornalista e presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, é o caso da televisão. “Todos os canais fazem isso, é uma forma de manter a fidelidade da agência de publicidade com o veículo. Só que, como a Globo é muito poderosa, a propina é muito maior”, diz.

De acordo com dados do Projeto Inter-Meios, da publicação Meio & Mensagem, a publicidade destinada à TV aberta em 2012 foi de R$ 19,51 bilhões. Cerca de dois terços desse valor ficaram com a Globo.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) e editor da Revista Fórum, Renato Rovai, outro procedimento adotado pela emissora é o repasse antecipado dos bônus. “A Globo estabelece uma bonificação por volume de publicidade colocada e antecipa o recurso. Aí a empresa fica presa a cumprir esse objetivo. É assim que fazem o processo de concentração”, ressalta.

Borges critica ainda o silêncio midiático em torno do assunto. “É um tema-tabu, nenhum veículo fala. Como todo mundo utiliza, ninguém pode reclamar. Fica todo mundo meio cúmplice”, dispara.
Regulamentação

Em 2008, as bonificações foram reconhecidas e regulamentadas pelo Conselho Executivo das Normas Padrão (CNPE), entidade criada pelo mercado publicitário para zelar as normas da atividade. O CNPE classifica os bônus como “planos de incentivo” para as agências.

Dois anos depois, as bonificações foram reconhecidas também por lei. Elas estão previstas na Lei nº 12.232, que regulamenta as licitações e contratos para a escolha de agências de publicidade em todas as esferas do poder público. Segundo o texto, “é facultativa a concessão de planos de incentivo por veículo de divulgação e sua aceitação por agência de propaganda, e os frutos deles resultantes constituem, para todos os fins de direito, receita própria da agência”.

Para Renato Rovai, a aprovação do texto agravou o problema. “É uma corrupção legalizada. Nenhum lobby é legalizado no Brasil, mas o BV é”, critica o presidente da Altercom.

A Lei nº 12.232 também foi objeto de polêmicas durante o julgamento da ação penal 470, no caso que ficou conhecido como “mensalão”. Isso porque o texto original da lei permitia que as agências ficassem com o bônus, mas só para contratos futuros. Entretanto, uma mudança feita na Comissão de Trabalho em 2008 estendeu a regra a contratos já finalizados. O fato gerou discordância entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ayres Britto chegou a afirmar que as alterações foram feitas para beneficiar os réus do “mensalão”, acusados de peculato referente a desvios de Bvs.

Mudanças

Mudar a legislação, na avaliação do presidente da Altercom, é um passo fundamental para acabar com a prática das bonificações por volume. No entanto, são necessárias mais medidas para reverter o quadro atual da mídia no país. “É preciso mudar a regulamentação e criar um novo marco legal, incluindo as agências”, defende Rovai.

Uma das propostas para isso é o Projeto de Lei de Iniciativa Popular para as Comunicações. Criado por organizações populares, o PL visa, dentre outros objetivos, combater o monopólio no setor e garantir mais pluralidade nos conteúdos.

Em seu artigo 18, o projeto propõe que “os órgãos reguladores devem monitorar permanentemente a existência de práticas anticompetitivas ou de abuso de poder de mercado em todos os serviços de comunicação social eletrônica”, citando “práticas comerciais das emissoras e programadoras com agências e anunciantes”. Para se transformar em um projeto de lei, a proposta precisa de um 1,3 milhão de assinaturas.

Fonte: Brasil de Fato, por Patrícia Benvenuti, jornalista

A liberdade é como oxigênio, sem ela não há criação, diz escritor



Em tempos de luta por liberdade e defesa da expressão e no ano em que a Constituição Federal completa 25 anos, o jornalista e escritor Urariano Mota, colunista da Rádio Vermelho, faz ampla reflexão sobre a questão e destaca “é preciso respeitar o que muitos lutaram para defender. A liberdade de expressão é como oxigênio, sem a qual não há criação. Ela é liberdade política, sem a qual a vida para”.

A inspiração do nosso colunista está na polêmica, que se instarou nos últimos dias, sobre a produção de biografias não autorizadas. Durante sua reflexão, Urariano Mota pontuou as legislações vigentes sobre essa questão e ponderou que há um conflito entre os diferentes marcos legais.

Segundo ele, há um movimento paradoxal. “Os artistas estão a todo o tempo, o tempo todo, expondo suas vidas”. Ele acrescenta que viver sem liberdade é viver em risco e as leis não podem se sobrepor às necessidades humanas, a liberdade de pensamento e de expressão é anterior a qualquer marco”.

Por Joanne Mota, Rádio Vermelho

sábado, 26 de outubro de 2013

Ângela Almeida: Cultura, direito essencial para o desenvolvimento

Durante a reflexão, Ângela Almeida, que é doutoranda em Letras pela Universidade de Caxias do Sul, destacou que “a área da cultura é uma das áreas que o Brasil mais avançou nos últimos 10 anos. Os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff mudaram a maneira de pensar a cultura e consequentemente o modo de fazer política de cultura no país. Ela hoje ultrapassa as esferas das artes de das letras. E mais, a ideia de cultura e para além de todos os ganhos nesse setor, a pesquisadora destacou como o maior, o reconhecimento da cultura como um direito do cidadão, basta observar o foco das políticas públicas de cultura para os públicos, por exemplo. Ângela Almeida ainda salientou que ações como a instituição do Vale Cultura demonstra o processo de mudança porque passa esse setor.
Ao citar artigo de autoria dos comunistas Elder Vieira e Javier Alfaya, publicado na Revista Princípios, Ângela destacou que “no governo Lula a cultura foi retirada do quarto dos fundos e posta na sala de estar do Projeto Nacional”. Um fato que retrata bem essa assertiva dos pesquisadores, citou Ângela, é a experiência dos Pontos de Cultura, ação que ganhou amplo espaço em países não só da América Latina, mas também Europa e até Estados Unidos.
No entanto, a colunista da Rádio Vermelho sinalizou que mesmo com avanços importantes ainda “há um longo caminho a ser percorrido com a superação de desafios estratégicos. Entre os quais a pesquisadora destacou a democratização dos meios de comunicação, somos hoje prisioneiros da TV”.

Fonte: Portal Vermelho

por Joanna Mota , da rádio Vermelho em São Paulo

O retrato de um país no romance O Cortiço de Aluísio Azevedo

É como romancista social que melhor se afirmou o talento de Aluísio. É o escritor apaixonado, o artista combativo, pondo a nu os problemas sociais e morais da realidade brasileira do seu tempo: o preconceito de cor, os preconceitos de classe, a ganância de lucro fácil – e todas as injustiças e misérias decorrentes. Mais do que o indivíduo, é a sociedade que lhe interessa. Mais que miniaturista da alma, é o pintor de amplos murais. E é na pintura um verdadeiro impressionista: colorido vivo, tons fortes e quentes. Mostra preferência pelos tipos vulgares e grosseiros, pelos ambientes sujos e

situações deprimentes – é o artista procurando acordar a consciência do leitor da sociedade comprometida nas injustiças.
O impacto da industrialização, como sabemos, promoveu a centralização urbana em escala nunca vista, criando novas e terríveis formas de miséria – inclusive a da miséria posta diretamente ao lado do bem-estar, com o pobre vendo a cada instante os produtos que não poderia obter. Essa nova situação logo alarmou as consciências mais sensíveis e os observadores lúcidos, gerando uma série de romances que a denunciam. Aluísio foi o primeiro dos nossos romancistas a descrever minuciosamente o mecanismo de acumulação do capital. No seu romance, está presente o mundo do trabalho, do lucro, da competição, da exploração econômica visível, que dissolvem a fábula e sua intemporalidade.

Antonio Candido conta que no final do século XIX era corrente no Rio de Janeiro o ditado humorístico: “Para português, negro e burro, três pês: pão para comer, pano para vestir, pau para trabalhar”. O crítico literário explica que, para o brasileiro livre daquele tempo, com tendência mais ou menos acentuada para o ócio, favorecido pelo regime de escravidão, o português se nivelaria ao escravo porque, de tamanco e camisa de meia, parecia depositar-se (para usar a imagem usual da época) na borra da sociedade, pois “trabalhava como um burro de carga”. A diferença consistia em que: “enquanto o negro escravo e depois liberto era de fato confinado sem remédio às camadas inferiores, o português, falsamente assimilado a ele pela prosápia leviana dos ‘filhos da terra’ podia eventualmente acumular dinheiro, subir e mandar no país meio colonial”.

No romance, o português João Romão não se distingue, inicialmente, pelos hábitos, da escrava Bertoleza: “empilhando privações sobre privações, trabalhando e mais a amiga como uma junta de bois”. Mas João Romão era o proprietário do cortiço, do qual vai tirando os meios que o elevam no fim do livro ao andar da burguesia, pronto para ser comendador ou visconde.

Bertoleza, apesar de ser explorada até a exaustão por seu companheiro, era feliz, pois vivia iludida na sua falsa liberdade. Ela só compreendeu a sua posição e a sua condição de “animal de trabalho” com a transformação do companheiro. “E Bertoleza bem que compreendia tudo isso e bem que estranhava a transformação do amigo. Ele ultimamente mal se chegava para ela e, quando o fazia, era com tal repugnância, que antes não o fizesse. A desgraçada muitas vezes sentia-lhe cheiro de outras mulheres, perfumes de cocotes estrangeiras e chorava em segredo, sem ânimo de reclamar seus direitos. Na sua obscura condição de animal de trabalho, já não era o amor que a mísera desejava, era somente confiança no amparo de sua velhice quando de todo lhe faltassem as forças para ganhar a vida”.

No momento em que enriqueceu e que foi aceito como futuro marido da filha de Miranda, o negociante português, proprietário do sobrado vizinho ao cortiço, João Romão quis se livrar da escrava Bertoleza. Ele sentia-se atrelado à “negra dos diabos, e não conseguia arredar logo de sua vida aquele ponto negro: apagá-lo rapidamente, como quem tira da pele uma nódoa de lama!” João Romão se via como alguém que lutara muito e que estava prestes a ver seus sonhos ambiciosos se desfazerem no ar.

João Romão contou com a ajuda de Botelho para se livrar de Bertoleza. Saudosista, o velho Botelho, na sua juventude, fora um comerciante de escravos, profissão da qual muito se orgulhava. Foi com muita decepção e raiva que tomou conhecimento das ideias da época sobre abolição. Sempre que podia vociferava, classificando os abolicionistas e os partidários da Lei Rio Branco de “cáfila de salteadores”. O Brasil, em sua opinião, só tinha uma serventia: “enriquecer os portugueses, e que, no entanto, o deixara, a ele, na penúria”.

O final do romance seguiu uma forma crítica, apontando os “abolicionistas de ocasião”, como refere a historiadora Marília Conforto. João Romão denunciou Bertoleza aos seus antigos donos, que vieram até a venda resgatar a escrava fugida.

Ao ver seus antigos donos e pressentir o que estava para lhe acontecer, Bertoleza se suicida. João Romão, então livre da sua “nódoa de lama”, lucrou novamente com a moribunda instituição escravista. Nesse momento (o do suicídio de Bertoleza), parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha de casaca, trazer a João Romão o diploma de sócio benemérito. Ele mandou que um empregado os conduzisse para a sala de visitas!

Fonte: Portal Vermelho

Por Ângela Almeida

(*) Mestre em Direito. Doutoranda em Letras. Analista Tributário da Receita Federal do Brasil

Bibliografia:

Azevedo, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

Candido, Antonio. De cortiço a cortiço. In: Azevedo, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

Conforto, Marília. Faces da personagem escrava. Caxias do Sul: EDUCS, 2001.

Dilma pede desculpa a médico cubano hostilizado

A presidenta Dilma Rousseff agradeceu ao médico cubano Juan Delgado, 49 anos, que foi vaiado e hostilizado de maneira preconceituosa e elitista ao desembarcar no aeroporto de Fortaleza, em agosto passado. O ato gerou repúdio do governo. “Não apenas pelo fato de ele ter sofrido um imenso constrangimento ao chegar ao nosso país, do ponto de vista pessoal e do governo, eu peço desculpas a ele”, disse Dilma, durante seu discurso na cerimônia de sanção do Programa Mais Médico, na última terça-feira (22), 

em Brasília.

Já o ministro da saúde, Alexandre Padilha, classificou o episódio de “corredor polonês da xenofobia” e disse também, que esse sentimento não representa o espírito do povo brasileiro ou mesmo da maior parte dos médicos do país. O evento contou com uma platéia de 600 médicos, sobretudo estrangeiros.

O programa criado pelo Ministério da Saúde causou pânico na elite médica brasileira e foi extremamente criticado pelas entidades representativas desses profissionais, que passaram a atacar com virulência o projeto, sem levar em consideração a realidade brasileira e a necessidade de profissionais da saúde nas regiões mais carentes, as quais os médicos brasileiros se recusam a ir.

A intriga foi pior em relação aos profissionais de Cuba, por puro preconceito, já que a medicina exercida em Cuba, por ser um país socialista, não obedece à lógica do mercado capitalista que visa somente o lucro financiado pela desgraça alheia. O país trabalha com o conceito de “medicina preventiva”, ou seja, procura evitar que as pessoas

fiquem doentes.

Segundo a revista New England Journal of Medicine no sistema de saúde cubano toda população tem um médico de família. E tudo é gratuito. Apesar de dispor de recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o Tio Sam ainda não conseguiu sanar.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, que considera o sistema cubano um modelo a ser seguido, Cuba conta hoje, com 6,4 médicos por mil habitantes. No Brasil, esse índice é de 1,8 médico por mil habitantes. Na Argentina, a proporção é de 3,2 médicos por mil habitantes. Em países como Espanha e Portugal, essa relação é de 4 médicos para cada mil habitantes.

A partir dessa semana, o Ministério Público poderá emitir os registros provisórios para profissionais estrangeiros que ainda não obtiveram o documento. A possibilidade de o ministério conceder os registros foi incluída no texto da MP porque médicos estrangeiros contratados pelo programa estavam com dificuldades para conseguir os registros nos conselhos regionais de medicina.

De acordo com o governo, em alguns casos os conselhos estavam exigindo dos profissionais documentos para obter o registro além daqueles exigidos pela legislação. “Mais uma vez finalizo agradecendo aqueles que não trouxeram sua família, que estão com saudade e que demonstram imenso carinho ao povo brasileiro. Eles vieram nos apoiar, nos ajudar. Esse país vai ficar eternamente grato a vocês. Talvez essa participação de vocês seja a mais perfeita, a mais completa, não só forma de integração da América Latina e dos outros países, mas também é um atestado de cidadania brasileira”, completou a presidenta.

Natália Padalko, da redação

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Enem ajuda a construir a igualdade

As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) serão aplicadas no sábado (26) e no domingo (27), com início às 13h (horário de Brasília). Os portões de acesso aos locais de provas serão abertos às 12h e fechados às 13h. O Enem se constitui atualmente como o principal exame seletivo do país para o ingresso ao ensino superior. Em 2013 inscreveram-se para o exame 7.173.574 estudantes, sendo que 1,6 milhão concluindo o ensino médio.
No sábado os estudantes terão 4h30 para fazer as provas de ciências humanas e suas tecnologias e ciências da natureza e suas tecnologias. No domingo, em 5h30,

enfrentarão as provas de redação, linguagens, códigos e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias. Todas as provas terão 45 questões de múltipla escolha.

Nascido em 1998, ainda sob o governo neoliberal de FHC, o exame servia apenas para uma avaliação do ensino médio. A mobilização do movimento estudantil, através de suas entidades representativas, obrigou a efetivação de profundas mudanças até que em 2009, o governo Lula transformou o Enem na grandiosidade que ele é hoje.

Todas as 59 universidades federais e os 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia usam o Enem como seleção para preencher suas vagas. Centenas de instituições do ensino privado também utilizam a nota no exame em seus processos seletivos. No caso das particulares, os estudantes têm a possibilidade de se inscrever no Programa Universidade Para Todos (ProUni) que concede bolsas de estudo de acordo com o desempenho nas provas e com a necessidade de cada um.

Criado em 2004, o ProUni já atende mais de 1,2 milhão de estudantes, sendo 68% com bolsas integrais. Sem o Enem isso seria praticamente impossível. Sendo a principal porta de entrada para oriundos da classe trabalhadora.

A principal novidade para este ano refere-se às cotas sociais que já determinam a reserva de 12,5% das vagas no ensino superior público a estudantes que cursaram o ensino público em toda sua trajetória. A proposta determinada pela Lei 12.711/12 é de que até 2016 50% das vagas em universidades públicas federais sejam destinadas a estudantes oriundos da rede pública regular ou de educação de jovens e adultos. Além das cotas raciais que estipulam percentual de reserva para negros e índios nos bancos universitários.

Fato de grande

importância porque segundo o Censo Escolar de 2012, a absoluta maioria dos jovens freqüenta escolas públicas, sendo 84.9% matriculados na rede estadual, 1,5% nas federais e 0,9% nas municipais. O ensino privado responde por 12,7% dos estudantes matriculados no ensino fundamental e médio.

No ensino superior a realidade é diametralmente oposta. O Censo da Educação Superior do ano passado, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) revela que 73% dos 7.037.688 universitários brasileiros estavam matriculados nas 2.112 instituições de ensino superior privadas. No ano passado existiam 2.146 instituições de ensino superior no país, com oferta de 31.866 opções de curós. As universidades públicas eram 304. Além do ProUni, o Financiamento Estudantil (Fies), que neste ano passou a cobrar juros de 3,4% ao ano, facilita a permanência dos estudantes carentes nas instituições, além do Programa Bola Permanência que dá uma ajuda de custo de R$ 400 aos estudantes carentes em instituições públicas.

O MEC orienta os estudantes a comparecerem aos locais das provas com pelo menos meia hora de antecedência com os documentos e apetrechos necessários à realização das provas.
O Enem já é o maior processo seletivo do país e o segundo do mundo. No Brasil atua a favor das políticas de combate à desigualdade.

Acompanhe o passo a passo do Enem aqui.

Veja os locais das prova antecipadamente.

Marcos Aurélio Ruy, da redação

UJS lança centro cultural “Cortiço”

“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas aninhadas. (…) O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já não se destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. (…) Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante sensação de respirar sobre a terra”. Da obra de Aluísio Azevedo, O Cortiço (1890).

Esta passagem de uma das principais obras literárias brasileiras revela com profundidade e poesia a alma do nosso povo, forjada na luta dos negros e da população pobre em geral. O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é na verdade um relato poético e naturalista do nascimento das favelas cariocas, representação do povo mais humilde e excluído do Brasil, que busca, através de sua música e capoeira, expressar a batalha do dia a dia por uma vida melhor. Esta é a inspiração maior do centro cultural da UJS, “Cortiço”.

O novo centro cultural da União da Juventude Socialista (UJS) abrirá as portas na próxima sexta feira, 25 de outubro. O espaço, que fica no tradicional e querido bairro da liberdade, contará com uma programação recheada de literatura, artes cênicas, gastronomia, cinema e muita música. Nessa sexta (25), roda de samba e entrada gratuita.

Confirme sua participação no evento do Facebook

Curta a página do Cortiço179

Baixe o folder de divulgação

Serviço:

Lançamento Centro Cultural O Cortiço

Dia 25 de Outubro às 19h00

Local: Rua Taguá, 179 – Liberdade (SP), pertinho da estação do metrô São Joaquim. Tropeçou, chegou.

Redação

#VemPraRua pela criminalização da homofobia

Homofobia significa repulsa ou o preconceito contra a homossexualidade e/ou o homossexual. A palavra fobia denomina uma espécie de “medo irracional”, podemos entender esse termo, assim como outras formas de preconceito, como uma atitude de colocar a outra pessoa, no caso, o homossexual, na condição de inferioridade, de anormalidade, baseada no domínio da lógica heteronormativa, ou seja, da heterossexualidade como padrão, norma. A homofobia é a expressão do que podemos chamar de hierarquização das sexualidades.

Todos os dias, jovens da comunidade LGBT são vítimas do preconceito da sociedade heterocentrista, que tem grande dificuldade em lidar com a diversidade. Seja nas ruas, nas escolas ou na nas universidades do país, o preconceito e a opressão ocorre das mais variadas formas. Seja através do constrangimento verbal, ou através da violência física, que já contabilizou milhares de jovens que decidiram se relacionar com alguém de uma maneira não compreendida pela sociedade.

O Relatório de Assassinatos de LGBTs de 2012, publicado pelo Grupo Gay da Bahia, um homossexual, lésbica, bissexual ou transexual é morto a cada 26 horas no país. Outra pesquisa divulgada no ano passado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos sobre violência homofóbica no Brasil revela que os órgãos federais receberam em 2011 uma média de 19 denúncias por dia de discriminação ou violência contra homossexuais. Segundo dados da

Organização (Unesco) mais de 40% dos homossexuais masculinos brasileiros já foram agredidos durante a sua vida escolar em diversas faixas etárias.

Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a legalidade da união estável entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. A decisão retomou discussões acerca dos direitos da homossexualidade, além de colocar a questão da homofobia em pauta.

Apesar das conquistas no campo dos direitos, a homossexualidade ainda enfrenta sofre grave preconceito. O reconhecimento legal da união homoafetiva não foi capaz de acabar com a homofobia, nem protegeu inúmeros homossexuais de serem rechaçados, muitas vezes de forma bastante violenta.

A luta pela criminalização da homofobia é uma das pautas que irão mover os debates do 40° Congresso da União Brasileira de Estudantes Secundaristas que dessa vez, acontecerá em duas cidades mineiras: Contagem e Belo Horizonte, entre o dia 28 de novembro e 1° de dezembro e conta com um número recorde de 6.400 delegados eleitos em escolas de todo país e mais de 10 mil estudantes são esperados para os debates.

Por considerar justa toda forma de amor, acreditamos que a decisão individual de cada um seja respeitada em todas as esferas. As escolas, em especial, devem ser um espaço libertado em todos os sentidos. No conteúdo que é abordado em sala, mas também no respeito à diversidade e a escolha de cada um. A regra é simples: queremos paz e respeito ao próximo. Faça amor, não faça homofobia!

Natália Padalko, da redação

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

#VemPraRua contra o machismo – I Encontro de mulheres da UJS

Assumindo o desafio de aprofundar a elaboração e o ativismo feminista para conquistar mais direitos para as jovens mulheres brasileiras e afirmar o socialismo como caminho para sua plena emancipação, a União da Juventude Socialista convoca o conjunto da sua militância para o I Encontro de Jovens Mulheres Feministas da UJS, que ocorrerá nos dias 13, 14 e 15 de dezembro, em Brasília.

Violência, salários baixos, tripla jornada de trabalho e uma série de desvantagens profissionais, as mulheres ainda precisam lutar muito pela ruptura da lógica machista na sociedade, apesar dos avanços e todas as amarras rompidas ao longo da história, os números mostram uma realidade preocupante.

Segundo aponta o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica (IPEA), divulgado em setembro de 2013 – entre 2009 e 2011, o Brasil registrou 16,9 mil feminicídios -, especialmente em casos de agressão perpetrada por parceiros íntimos. Esse número indica uma taxa de 5,8 casos para grupo de 100 mil mulheres. A maioria das denúncias realizadas na lei Maria da Penha partem de relacionamentos não estáveis. O primeiro tapa geralmente não acontece aos 40, após anos de casamento. O primeiro tapa ocorre aos 15 anos, com o primeiro namorado. É preciso esclarecer essas meninas, informá-las sobre seus direitos legais, para que isso não volte mais a acontecer.

“Um conjunto de fatores que oprimem a mulher – estereótipos de beleza e submissão que são reproduzidos diariamente na televisão e na mídia com um todo, violência doméstica, a falta de autonomia da mulher sobre seu próprio corpo e a falta de políticas públicas para as jovens brasileiras-, são alguns deles”, avalia Maria das Neves,

diretora de jovens mulheres da UJS e organizadora do encontro.

“O capitalismo é o inimigo central das mulheres é principal obstáculo a ser superado para conquistarmos nossa plena emancipação. Emancipar as mulheres é construir o socialismo. É e está será a tônica do evento que espera reunir mais de 500 jovens feministas que atuam nas diversas frentes da UJS”, completa Maria.

A participação feminina é fator decisivo para impulsionar as transformações necessárias para que esse país continue a se desenvolver com igualdade. As mulheres são minoria na política nacional. Hoje, das 5565 Câmaras Municipais, apenas 56 são presididas por mulheres. Representa apenas 1%. Em contra partida, as mulheres representam 51% da população nacional, e são maioria nas escolas e universidades no Brasil.

A União da Juventude Socialista (UJS) dirige as principais entidades estudantis do país: UNE (União Nacional dos Estudantes), UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e ANPG (Associação Nacional de Pós- Graduandos). No último congresso da UJS aprovou 50% da direção nas mãos das mulheres, e isso é um caminho sem volta.

Faça sua inscrição e envie o Formulário para ujsfeminista@gmail.com

Leia o documento base do encontro Emancipar as mulheres, construir o socialismo!

As mulheres nas ruas conquistam vitorias!

Natália Padalko, da redação

UBES defende projeto da Lei de Responsabilidade Educacional

Protesto na Câmara dos Deputados
Se administradores de cidades ou estados cujos estudantes pioraram nas avaliações de desempenho educacional fossem proibidos por quatro anos de se reeleger, o ensino teria mais qualidade? Para melhorar os índices atuais, o deputado Raul Henry, do PMDB de Pernambuco, integrou a ideia às discussões do projeto de Lei de Responsabilidade Educacional (PL 7.420/06), que atualmente tramita em comissão especial na Câmara dos Deputados.

A Lei de Responsabilidade ¬Educacional propõe punir prefeitos e -governadores que descumpram as regras de investimento em educação por crimes de ¬responsabilidade, infrações -administrativas e atos de improbidade administrativa – à semelhança do que a Lei de Responsabilidade Fiscal faz pelo controle de gastos públicos.

Designado relator do projeto, Henry quer proibir a reeleição de prefeitos e governadores cujos municípios ou estados tenham registrado piora no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), criado pelo governo federal para medir a qualidade da educação pública.

Se aprovada, a legislação responsabilizará gestores pelo cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que também espera aprovação no Legislativo. Referência no planejamento das políticas públicas da área, o PNE não prevê punição aos gestores.

“Proponho uma possibilidade limitada de suspensão durante quatro anos, aplicável até o dia em que o município atingir as metas previstas no PNE: nota 6 no Ensino Fundamental I, 5,5 no Fundamental II e 5,2 no Médio”, diz Henry. Hoje, a média nacional no Ideb (que vai de zero a 10) é de 4,6, segmentada em 5 no Fundamental I, 4,1 no Fundamental II e 3,7 no Médio. Também preocupam os baixos desempenhos dos alunos em outros testes, como a Prova Brasil e o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), no qual o Brasil figura atrás de países latino-americanos como México, Uruguai e Chile.

O projeto institui avaliação periódica e jornada integral de ao menos sete horas no Ensino Fundamental e de cinco no Ensino Médio. Além disso, determina a criação de planos de carreira e de formação para professores. “Nosso grande problema é a qualificação dos profissionais e seu recrutamento. Infelizmente, a atividade hoje não tem atrativos”, diz Henry.

A intenção não é promover uma “caça às bruxas”, mas conscientizar os administradores públicos, ele diz. Além da má gestão pública, outros aspectos importantes colaboram para os baixos índices educacionais, como a participação da família e os problemas peculiares de cada região.
Raul Henry acredita que o texto pode passar na Câmara ainda em 2013 – faltariam as avaliações do Senado e da presidenta Dilma Rousseff. A mensagem, ele diz, é simples: “Tu não podes piorar o que já é muito ruim”.

Por Rafael Gregório, revista Carta Escola (edição 80, de outubro de 2013)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

#VemPraRua para mudar a escola no Brasil

“Não há arma mais poderosa do que o conhecimento nem maior fonte de conhecimento do que a palavra escrita. Canetas e livros são armas que derrotam o terrorismo”. Palavras da paquistanesa Malala Yousafzai, a jovem ativista, baleada aos 14 anos, por radicais pelo simples motivo de defender o direito das meninas de frequentar a escola.

No Brasil, o cenário é bem diferente do conturbado país do Oriente Médio, além do que, é inegável o grande avanço que a educação brasileira teve nos últimos anos, mais de um milhão de jovens ingressaram na faculdade através do Programa Universidade Para Todos (ProUni), porém ainda há muito a ser feito.

São vários os problemas presentes na educação pública. A falta de estrutura, os professores pouco valorizados e o ambiente escolar não é nada atrativo para os jovens. Mesmo com os diversos avanços da última década, não há como negar que a escola é o elo frágil e está em completo descompasso com o ciclo de desenvolvimento do país. A educação precisa muito mais para ser prioridade nacional como uma área estratégica pra o desenvolvimento com justiça social.

É diante desse cenário que a luta dos secundaristas para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) ser destinados para a educação, além de defender uma escola com mais estrutura e modernização. A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) tem a plataforma A Escola que Queremos e tem levado esse debate para dentro das escolas e para as ruas com objetivo de gritar bem alto a necessidade de os jovens terem espaço para expressar-se livremente.

Essas pautas que irão mover os debates do 40° Congresso da União Brasileira de Estudantes Secundaristas que dessa vez, acontecerá em duas cidades mineiras: Contagem e Belo Horizonte, entre o dia 28 de novembro e 1° de dezembro e conta com o número recorde de 6.400 delegados eleitos em escolas de todo o país e mais de 10 mil estudantes são esperados para os debates.

O Movimento #VemPraRua luta por melhores condições nas escolas, somos a sétima economia do mundo, mas ainda temos 14 milhões de analfabetos, um índice de 10,3% de evasão escolar no ensino médio e nossas escolas convivem com uma defasagem de 300 mil professores, além de salários baixos e ainda há governadores e prefeitos que resistem ao piso salarial do magistério. Além de tudo isso, O Plano Nacional de Educação (PNE) se arrasta há mais de 2 anos no Congresso e ainda não foi aprovado.

A luta por uma gestão democrática nas escolas, com possibilidade de livre organização, inclusão digital e atividades em período integral com aulas de artes, esporte e tecnologia. Uma atenção especial para o ensino técnico, tão fundamental para a economia brasileira e uma escola que estimule e canalize a energia e identidade do jovem brasileiro. Uma escola com a cara, a coragem e a irreverência dessa juventude que vai à luta e segue em frente por um mundo melhor.

Verba pública tem que ser para o ensino público, educação como prioridade absoluta e uma escola que tenha de fato, a cara da juventude brasileira do século 21. Como diria Paulo Freire, “a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”.

Natália Padalko, da redação

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Laurindo Lalo Leal Filho: O Brasil não se vê na TV

Parece que alguns parlamentares já esqueceram as “vozes das ruas” gritadas em junho. Com desfaçatez, seis senadores e seis deputados decidiram regular por conta própria o dispositivo constitucional que determina a regionalização da programação de rádio e TV no país.

Atropelaram, em poucas horas, um debate que se trava no Congresso há exatos 22 anos. A concentração histórica das programações no eixo Rio-São Paulo faz com que o Brasil não conheça o Brasil. Por isso, os constituintes em 1988 escreveram na Constituição que “a produção e a programação das emissoras de rádio e televi

são atenderão ao princípio da regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei”. Só que essa lei nunca saiu.

Iniciativas para elaborá-la não faltaram. O projeto mais antigo é de 1991, da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Levou doze anos para ser aprovado na Câmara dos Deputados e está há dez parado no Senado. Por ele, as TVs ficariam obrigadas a veicular, entre as cinco da tarde e a meia-noite, programas produzidos regionalmente. Seriam no mínimo 10 horas e no máximo 22 horas por semana de programas regionais, dependendo do número de domicílios com TV existente na área coberta pela emissora. Esse tempo deveria aumentar, em cinco anos, para o mínimo de 22 e o máximo de 32 horas.

A ampliação do mercado de trabalho para produtores independentes é um dos pontos centrais do projeto. Hoje quase toda a produção televisiva é realizada pelas próprias redes nacionais, concentrando-se no eixo Rio-São Paulo. Se a lei fosse aprovada, 40% dos programas regionais exibidos deveriam ser realizados por produtoras independentes contemplando obras de ficção, documentários e teledramaturgia, dando oportunidade de trabalho a novas gerações de realizadores espalhados por todo país. O resultado, para o público, seria – além de conhecer melhor a sua própria região – desfrutar de experimentos narrativos capazes de romper com mesmice crônica da televisão brasileira.

A aprovação na Câmara deu-se depois de longas e árduas negociações da autora do projeto com as emissoras e com os deputados que as representam. Remetido ao Senado empacou outra vez e a explicação para isso é simples: 25% dos senadores detém concessões de TV.

Pois foi justamente um deles, Romero Jucá (PMDB-RR) que tornou-se relator da Comissão dos 12 parlamentares surdos às vozes das ruas. Com caráter terminativo, ou seja a decisão por eles tomada vai direto ao plenário,

derrubaram em poucas horas os propósitos dos constituintes de 1988 que estavam, sem dúvida, contemplados no projeto original.

A regulação estabelecida pela comissão chega a ser um escárnio. Considera os horários obrigatórios de propaganda política e as redes nacionais para o pronunciamento de autoridades como “produção regional”. Assim como programas religiosos e jogos de futebol. Como não estabelece classificação de horários, as cotas regionais podem ser perfeitamente cumpridas durante a madrugada. Além não fazer nenhuma menção à produção independente.

Mas os absurdos não param por ai. Aproveitaram a oportunidade para enfiar no relatório uma cláusula que dá as emissoras o direito de acesso a 5% dos recursos do Fundo Nacional de Cultura que tem, neste ano, um orçamento de R$ 260,2 milhões. A justificativa é de “incentivar” a regionalização.

Fica difícil entender a necessidade desse incentivo para uma programação regional baseada em programas religiosos (pagos pelas igrejas) e de mensagens políticas (dedutíveis do imposto de renda), como prevê o relatório do Senador Jucá.

Triste solução para um problema grave. É inconcebível que um país com as dimensões e a diversidade cultural do Brasil mostre, por exemplo, todos os dias pela TV, os congestionamentos nas marginais paulistanas. O que isso interessa ao telespectador do Acre ou do Rio Grande do Sul? Escondendo, ao mesmo tempo, acontecimentos locais importantes. Infelizmente para mudar esse quadro a solução encontrada pelos parlamentares reduziu-se a um oportunismo mesquinho.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).

Artigo publicado originalmente na edição de outubro da Revista do Brasil

#VemPraRua quer discutir legalidade da maconha



O Movimento Vem Pra Rua quer debater com você este tema tão polêmico. Afinal de contas, a proibição da maconha serve a quem? Para nós o debate não pode ser moralista, é uma questão de saúde e segurança pública.

Em muitos países ficou provado que a legalização e regulamentação da maconha incidiram positivamente, ao diminuir índices de violência e de matança de jovens, mas, e as outras questões?

Será que o consumo aumentaria a ponto de se tornar um problema de saúde pública? São muitas as perguntas e queremos ouvir suas sugestões e ideais sobre assunto.

Na ilustração a lado está o horário 4h20 por ser uma espécie de código de estudantes norte-americanos que saiam da escola e iam fumar maconha.

Se você quer debater este assunto #VemPraRua com a gente legalizar o debate no 40º Congresso da União Brasileira de Estudantes Secundaristas!Não se pode mais fugir desse debate e esconder a cabeça feito avestruz o problema deve ser enfrentado de frente e com muita dignidade e a juventude deve ser ouvida nessa e em muitas outras questões que afetam nossas vidas.

Redação

sábado, 19 de outubro de 2013

Sabotage: A criação do mito

Dez anos sem Sabotage – Projetos ligados ao MC começam a sair do papel. Acima, foto Polaroid inédita do músico, tirada em 2002 no bairro do Capão Redondo

Sabotage, um dos maiores nomes do rap nacional, ganha biografia oficial, documentário e CD com músicas deixadas incompletas, uma década depois de sua morte.

Quando foi assassinado, no início de 2003, Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage, já havia conquistado seu espaço no hip-hop e colhia os frutos do sucesso de seu único álbum, Rap é Compromisso (2001), de gravações em discos de parceiros e das participações nos filmes Invasor (Beto Brant) e Carandiru (Hector Babenco). Para muitos, ele já era referência, e sua obra revolucionária. O que ainda não estava claro era o quanto Sabotage, com sua pequena produção musical, representaria um divisor de águas no rap nacional. Hoje, tornou-se uma das principais influências da nova geração de rappers e foi transformado quase em mito nas periferias do País. Agora, no ano que marca uma década de sua morte, além de shows e homenagens, o cantor ganha biografia oficial, documentário e um disco póstumo, com músicas que deixou incompletas.


A morte precoce, supostamente fruto de rivalidades no mundo do crime, certamente contribuiu para a criação do mito, assim como a participação de Sabotage nos dois filmes de grande visibilidade. Mas são as letras e a música – sem deixar de lado estilo e atitude – que fizeram do legado do rapper algo inquestionável. “Entre os MC's com quem trabalhei, talvez ele seja o cara que chegou mais longe, no sentido de onde um MC pode chegar”, conta Daniel Ganjaman, produtor de Rap é Compromisso e de discos dos Racionais, Criolo, Emicida, Helião, entre outros. “Mas foi tudo rápido, não dava pra dar conta direito na época.”

Em parte, Sabotage já tinha consciência de sua originalidade, como transparece, com misto de orgulho e humildade, em entrevista dada pouco antes de morrer. Sobre seu estilo de rima, ele diz: “Os caras falam que é poesia gangster… Mas eu não me vejo poeta não. Mas os caras falam: ‘O Sabotage inventou um novo meio de rimar, é poesia gangster’”.

Um bom Lugar
A sofisticação das letras e a capacidade de captar com rapidez o contexto social e musical para transformar em rima chamaram a atenção dos que conviviam com Maurinho, como era conhecido, desde cedo. Mas se tornar famoso era sonho distante. A realidade era correr atrás de dinheiro para colocar comida na mesa dos filhos e, para isso, o caminho trilhado foi o envolvimento com o tráfico de dro

gas na Favela do Canão (Brooklin, zona sul de São Paulo).

O próprio Sabotage resumiria, mais tarde, o universo de onde saiu: “O livro que eu li foi o livro de um cara puxando carroça, que é meu pai. Uma senhora que trabalhou dez, 15 anos num ambulatório, morreu e não teve nada, não deixou nada. Foi a minha mãe. Fui aprendendo a lidar com a vida pela vida mesmo, não foi no colégio. Quando eu entrei na escola, eu já sabia até demais”. A frase se tornou epígrafe da biografia Um Bom Lugar (Editora LiteraRua), de Toni C., primeiro grande lançamento de 2013 sobre o cantor. O documentário e o CD saem nos próximos meses.

A história de Toni com Sabotage começou com um infeliz acaso, que o impediu de conhecer seu biografado. O escritor estava em Porto Alegre, em 24 de janeiro de 2003, esperando o rapper chegar à cidade para participar do Fórum Social Mundial. Horas antes, Sabotage foi baleado a caminho do aeroporto, deixando, aos 29 anos, mulher e três filhos. O livro, autorizado pela família, mostra com cuidadosa contextualização a relação do rapper com o mundo do crime e das drogas, sem se esquivar do envolvimento que teve, mas tentando entender as complexidades da vida do cantor. “A gente está tratando de um artista negro, favelado, desdentado que sorria, que é uma síntese do povo brasileiro, com suas contradições, dificuldades, jeitinho. Às vezes, também com certo desespero”, diz o autor. O livro também mostra como, em 1999, ao se aproximar de Sandrão e Helião (membros do grupo RZO), além de Robin Hood, Posse Mente Zulu e outros nomes já consolidados na época, Sabotage começou a mudar de vida. Os primeiros cachês em shows mostraram que o rap podia ser sustento, não apenas hobby; o tráfico e o crime não saíram totalmente do caminho, mas, a partir daí, a música virou primeiro plano.
No cinema – Cartaz do documentário
Maestro do Canão
É principalmente sobre música, justamente, que falam os depoentes do documentário Maestro do Canão, dirigido por Ivan 13P, com previsão de lançamento para dezembro, e promete trazer imagens inéditas de Sabotage. No filme, Mano Brown, Thaide, Paulo Miklos, Ganjaman, Babenco, Brant e outros falam da trajetória de Maurinho (no rap e no cinema) e de como era cantor no dia a dia. “Ele começou a colocar músicas para eu ouvir. E eu vi que ele ouvia música melhor do que as que eu ouvia. Música brasileira da melhor qualidade”, conta Brown no filme. No depoimento ao Showlivre em 2003, Sabotage explicou que música era essa: “Rima é você tumultuar com palavras. É melhor fazer na prática do que na teoria. Tem de escutar bastante música. Por exemplo, eu rimo um rap, mas escuto bastante bossa-nova, Chico Buarque, muito Cazuza também, Caetano Veloso. Eu gosto de pegar uma bossa-nova antiga e renovar ela num trabalho de reciclagem. Tá entendendo? Você escuta um Eminem, um Jay-Z lá de fora, um Nely, e escuta um Chico aqui, um Pixinguinha. É coisa de louco, meu. Você tem que juntar uma coisa com a outra e saber que a cultura, aqui, é nossa”.

Talvez por esse perfil eclético, Sabo­tage conquistou o respeito de músicos de estilos variados. O titã Paulo Miklos, que interpreta o matador Anísio em O Invasor (2001), diz que o sucesso de seu personagem no filme se deve em grande parte à ajuda de Sabotage, que o orientou no vocabulário e nas atitudes para atuar. “Ele tinha um arsenal pra gente mexer no texto original, nas minhas falas. Como todo grande poeta, tinha uma coleção infindável na memória de termos, expressões. Coisa de um ouvido atento, que vai coletando as informações, para depois utilizar nas canções”, conta Miklos. Tanto que, em Carandiru (2003), além de atuar o rapper se tornou também um tipo de consultor de Babenco, ajudando a dar veracidade aos personagens da prisão.

Novo CD, nova geração
Foi com esse arsenal de palavras que Sabotage compôs e gravou, em 2002, o que, para muitos, são suas músicas mais sofisticadas. Em parceria com o Coletivo Instituto – grupo comandado pelos produtores Ganjaman, Rica Amabis e Tejo Damasceno –, deixou pérolas como Dama Tereza e Mun-Rá, que misturam hip-hop e samba. “Em estúdio, a gente conseguiu experimentar muita coisa envolvendo a linguagem do rap, mas ao mesmo tempo passando por outros estilos. Ele não foi o primeiro cara a misturar samba com rap, mas foi um dos caras que fizeram isso com mais identidade, personalidade”, afirma Ganjaman. O produtor, junto a outros que trabalharam com Sabotage, pretende lançar ainda este ano um álbum que há muito tempo é aguardado no mundo do rap, com músicas originais deixadas “aqui e ali” por Sabotage. “Ele sempre deixava alguma coisa gravada por onde passava”, diz Ganjaman.

Com álbum novo, documentário e livro que destrincham pela primeira vez em detalhes a vida do mito do rap nacional, o legado de Sabotage se torna maior ainda maior dez anos após a sua morte. “Está apenas começando. Dez anos é pouco”, vislumbra Toni C.. Referência para músicos da nova geração – como Criolo, Kamal, Rashid, Emicida e Projota –, Sabotage deixa um vazio ainda sentido. “Eu me lembro do dia da morte. A cultura inteira se retraiu. O nosso maior artista caiu. Ele virou uma lenda, mas a gente precisava dele aqui”, declarou certa vez Emicida. Considerado um músico tão revolucionário e à frente de seu tempo, ninguém pode dizer o que Sabotage estaria criando se estivesse vivo. O que se sabe, ao certo, é que em sua passagem meteórica pelo rap o pouco que deixou foi muito.

Fonte Revista Brasileros

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Como a desigualdade social explica o videogame de R$ 4 mil


Um texto de uma frase no blog do Playstation no Brasil desencadeou uma reação em cadeia nas redes sociais: como é possível que um videogame de 400 dólares nos EUA custe R$ 4 mil no Brasil? Nem mesmo a justificativa padrão dos empresários, de que “os impostos são muito altos no Brasil”, é capaz de justificar um preço que é quase o dobro do preço do concorrente direto.

Para começar, é conveniente fazer um cálculo direto, considerando que o valor do console nos EUA já tem embutido em si uma margem razoável de lucro. São 400 dólares no videogame. Normalmente, o governo cobra uma alíquota de 60% na importação sobre o preço original, elevando o valor do produto para US$ 400 + (60% x US$ 400) = US$ 640. Além disso, podemos inserir, sendo muito generosos, um custo de 10% do valor total do produto, já com impostos para serviços de logística: US$ 640 + (10% x US$ 640) = US$ 704.

Atualizando esse número com uma cotação GENEROSA do dólar, que segue instável no Brasil, temos que o custo final de um Playstation 4 no país deveria ser:

US$ 704 x R$ 2,40 = R$ 1689,60.

Vamos arredondar para R$ 1700,00, com custo de transporte e com os impostos cobrados. E daí constatamos que os R$ 2.300,00 adicionais que a Sony vai cobrar no console são APENAS lucro adicional.

Mas por que isso acontece no Brasil? E por que acontece não apenas com vídeo games, mas com eletrônicos em geral, com carros, com casas, com taxas bancárias, com produtos de supermercado e de todas as demais coisas que o brasileiro consome?

É simples: embora as multinacionais tentem justificar seus preços abusivos com a falácia do Custo Brasil (sim, ele realmente atrapalha, mas não é tão determinante assim), a questão é que no Brasil a maioria das empresas internacionais cobra preços abusivos por seus produtos, mesmo que eles tenham sido fabricados aqui. E essa tentativa de maximização de lucros dá certo por um único motivo: há um público específico que compra esses produtos, mesmo que eles custem preços abusivos.

Quem é esse público específico? A parcela dos mais ricos, em um país com extenso históricos de desigualdades sociais. No Brasil, a parcela de 1% dos mais ricos tem 87 vezes a renda da parcela dos 10% mais pobres. O que, a rigor, significa que eles consomem 87 vezes mais. Ou até mais, se considerarmos que nosso sistema tributário, baseado mais na tributação do consumo do que na tributação da renda, tem efeito impulsionador na desigualdade social no país.

Ainda há um agravante: no Brasil, a diferenciação se dá através do consumo. Culturalmente a ideia de ascensão social no Brasil não se baseia na criação de uma poupança interna ou na qualidade de vida das famílias, mas na noção de consumo. O próprio governo federal se aproveitou disso em seus três mandatos, promovendo um modelo de desenvolvimento baseado no incentivo ao consumo.

As empresas sabem disso, e fazem produtos voltados a esse público que quer diferenciação. É o videogame de R$ 4 mil, o carro de R$ 100 mil, e é a eclosão de estabelecimentos “gourmet”, que oferecem produtos bem mais caros apenas porque o público que vai comprar não quer apenas o produto, e sim o status diferenciado que o consumo daquele produto confere. Karl Marx já falava disso há 150 anos atrás, com o nome de “fetiche da mercadoria”.

A questão é que a desigualdade social potencializa isso no Brasil. A diferença entre ricos e pobres ainda é imensa no país e a venda de um produto desejado por alguns que vão comprá-lo por qualquer preço, como um videogame, por conta do fanatismo e do status social, incentiva as empresas a cobrarem preços absurdos em nome do lucro fácil. Façamos uma conta tosca aqui:

Suponhamos que 25% dos potenciais compradores de um PS4 compraria ele por qualquer preço, pelos fatores já elencados. E suponhamos que o custo para a Sony de um PS4 no Brasil seja de R$ 1500,00, já incluindo impostos, custo de transporte e pós-venda.

Se a Sony colocar o preço do PS4 a R$ 2000,00, por exemplo, quantos consoles ela precisaria vender para lucrar R$ 1 milhão?

A resposta é simples: R$ 1 milhão / R$ 500 de lucro por console = 2000 consoles.

Colocando o preço do PS4 a R$ 4000,00, a Sony precisaria vender quantos consoles paralucrar R$ 1 milhão?

Resposta: R$ 1 milhão / R$ 2500 de lucro por console = 400 consoles.

Se você dividir 400 por 2000, vai perceber que a Sony, quando pratica um preço abusivo, precisa vender APENAS 20% dos videogames para ter o mesmo lucro que teria se vendesse o console a um preço justo. E se a empresa sabe que 25% dos potenciais consumidores são fãs, tem dinheiro e vão comprar o Playstation 4 de qualquer jeito, ela prefere praticar o preço abusivo, porque isso vai resultar na maximização dos lucros da empresa, apesar da corrosão da sua imagem.

Ou seja: a desigualdade social e a existência desse grupo privilegiado faz com que seja justificável, para a Sony, praticar preços abusivos no Brasil. Assim como é justificável para a Apple, para as montadoras ou para as incorporadoras imobiliárias. Nos EUA e na Europa, em que a massa de consumidores médios é maior e tem mais noção do custo e da margem de lucro embutida nos produtos, a tentativa de maximização dos lucros pelo aumento dos preços, minimizando a massa consumidora, é um enorme tiro no pé.

No Brasil, por ainda existir uma elite bastante representativa em relação ao universo de potenciais consumidores desse tipo de produto, as empresas praticam preços abusivos. É lógico que outros fatores também contribuem negativamente, como a infraestrutura de transportes do país, predominantemente rodoviária, e a alta carga de impostos. Mas nem de longe explicam a viabilidade de empresas como a Sony praticarem preços abusivos no Brasil e ainda assim lucrarem. O que explica isso, além do fetiche da mercadoria, é a desigualdade social.

Fonte: Aleatório, Eventual & Livre

Artigo: Black blocs, luddismo pós-industrial

Em uma madrugada de 1812, no condado de York, um grupo de mais de 70 operários assaltou as dependências da

indústria têxtil na qual trabalhavam e destruíram todas as máquinas que puderam com marretadas.


Foi uma das maiores ações do movimento dos “quebradores de máquinas” que se espalhava pelos distritos industriais da Inglaterra. O objetivo era, por um lado, chamar a atenção para as condições aviltantes de trabalho e, por outro, atacar física e economicamente seus patrões, corporificados nas máquinas. O inspirador daquele assalto era Ned Ludd, operário britânico que no século anterior havia destruído uma máquina de costura após ser repreendido pelo patrão. Outros grupos em outras cidades industriais da Inglaterra produziram ações semelhantes durante as décadas de 1810 e 1820. No entanto, a proposta luddista perdeu força em meados do século XIX, depois que passou a ser punida de modo particularmente cruel.

O Estado britânico acirrou a legislação repressiva e passou a perseguir, prender, torturar e executar centenas de integrantes do movimento. Ao mesmo tempo, os luddistas perderam espaço com a diversificação tática do movimento operário: o surgimento dos sindicatos e o fortalecimento dos cartistas em 1830 colocaram em cena a luta por direitos políticos e pela participação operária no parlamento.

Alguns anos depois, os luddistas foram caracterizados por Marx como um proto-sindicalismo compreensível, mas que definitivamente mirava o alvo errado. O problema essencial do capitalismo não eram as máquinas, mas precisamente a propriedade privada das máquinas e as relações sociais de produção. Destruir máquinas, portanto, não caminhava nenhum passo em direção à transformação do sistema, além de atrair as forças militares contra a classe operária.

O fenômeno dos black blocs é recente no Brasil. Suas origens remontam ao fim dos anos 1970 na Alemanha, quando grupos anarquistas despontados dos protestos contra a energia nuclear empregaram métodos criativos de autodefesa contra a repressão policial. Preconizavam a tática da ação direta espontânea e da ocupação auto-organizada de espaços urbanos. Concebiam-se também como um movimento estético. Reinventados nos anos 1980, estabeleceram uma identificação visual com as roupas escuras e os rostos encapuzados, protegidos dos olhares policiais, propagando a destruição física dos símbolos do capitalismo globalizado. Disseminaram-se com a onda antiglobalização nos anos 1990, denunciando o neoliberalismo nas cúpulas da OMC e do G-8.

Os black blocs têm dividido opiniões na esquerda brasileira. Defendê-los pelo direito democrático à manifestação? Atacá-los por afastar as massas dos protestos das ruas? Defendê-los por ousarem destruir os símbolos do capitalismo globalizado? Atacá-los por facilitar a ação dos policiais infiltrados?

Penso que são como luddistas do mundo pós-industrial. Ao invés de destruírem as máquinas, atacam as instituições financeiras e os templos do consumo. Suas motivações são justas, mas a tática mira o alvo errado.

A juventude das periferias urbanas sofre com violência policial cotidiana, com desaparecimentos forçados, com quatro horas diárias de ônibus lotado, com racismo, com padrões culturais elitistas, com a exploração econômica do subemprego e da informalidade e com uma educação pública deteriorada. Essa é a verdade factual. Que os protestos de junho tenham despertado a iniciativa de grupos de jovens revoltados contra toda essa violência, decididos a se manifestar de maneira irremediável, isto também é plenamente compreensível.

Porém, quebrar agências bancárias e carros importados sequer arranha o volumoso patrimônio privado das empresas atacadas e tampouco aponta para qualquer mudança estrutural ou momentânea. Isso porque, na tática black bloc, falta um elemento fundamental de qualquer luta coletiva: a política.

Sem a política, a luta coletiva tende a ser engolfada pela cultura liberal e individualista que respiramos todos os dias. Sem a política, qualquer manifestação adquire contornos imediatistas e difusos: o ato radicalizado se torna um fim em si mesmo. Na melhor das hipóteses, tem o mesmo efeito de uma sessão de terapia, aliviando tensões interiores e pessoais. Sem política, caímos no jogo anárquico do mercado, imprimindo à luta o princípio da livre iniciativa. A tática

fica desprovida de estratégia, condenada à mera repetição. Atos, violência, prisões, atos, violência, prisões, atos, violência, prisões…

Política é planejamento, organização, tática que acumula para uma determinada proposta estratégica. Por isso, condenar os black blocs como inimigos ou fetichizá-los como artistas de vanguarda não aponta para a questão essencial, que permanece sem resposta: como organizar a revolta?



Professora, historiadora formada na USP e Mestra em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP

Fonte: Diário Liberdade

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A batalha de Hamburgo na Copa de 1974

Partida na primeira fase do Mundial de 1974 colocou frente a frente as duas Alemanhas então separadas pelo Muro.
Bola da partida (Museu da Alemanha Oriental em Berlim)


O sorteio de grupos para a Copa do Mundo de 1974, disputada na Alemanha Ocidental, reservou um clássico inédito e que não se repetiu mais na história dos mundiais. Caíram na mesma chave, o grupo A, Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental.

As duas seleções tinham a companhia de Chile e Austrália na chave.
Em um Mundial cercado de preocupações com a segurança após os traumáticos eventos* dos Jogos Olímpicos de Munique, apenas dois anos antes, os anfitriões estrearam contra a seleção chilena, que havia

se classificado com a desistência da União Soviética. Os alemães ocidentais levaram a melhor vencendo o jogo por 1 a 0. Na mesma rodada os alemães do leste venceram os australianos por 2 a 0.

Na segunda rodada a Alemanha Ocidental venceu a Austrália por 3 a 0 e os orientais empataram com os chilenos por 1 a 1. Com isso as duas Alemanhas chegavam à última rodada, onde se enfrentariam, já classificadas.
Equipe da Alemanha Oriental antes da partida (Museu da Alemanha Oriental em Berlim)
A partida, que foi esperada com muita tensão por ambos os lados, foi marcada para o dia 22 de Junho e seria realizada no Volksparkstadion na cidade de Hamburgo.
Estava em jogo muito mais do que apenas quem ficaria em primeiro e em segundo lugar do grupo. A rivalidade que vinha do campo político fez com que a partida fosse extremamente nervosa com duas equipes muito preocupadas em não sairem de campo derrotadas. A marcação dos dois lados foi muito forte.


Mais de 60 mil pessoas lotaram o estádio. Sendo que, desses, apenas 1,5 mil, aproximadamente, vinham do lado leste do Muro de Berlim.

A torcida da Alemanha Ocidental empurrava o time da casa o tempo todo. Em determinados momentos isso pareceu fazer a diferença a favor dos anfitriões. O atacante ocidental Gerd Müller chegou a acertar a trave dos orientais.

Vale lembrar que a Alemanha Ocidental já tinha um título mundial e era a atual campeã européia, enquanto os orientais faziam sua primeira, e única, aparição em Copas do Mundo.

Aos 32 minutos do segundo tempo, quando o jogo se encaminhava para um empate sem gols, dada a preocupação das duas equipes em não perder, o jogador da Alemanha Oriental Erich Hamann, que era reserva e tinha acabado de entrar na partida, superou a marcação do craque ocidental, Franz Beckenbauer, e cruzou para Jürgen Sparwasser. O atacante dominou a bola de forma estranha, usando até os ombros, e com isso conseguiu deixar para trás os dois zagueiros ocidentais e aparecer livre na frente do goleiro para fazer o gol que deixou o mundo do futebol surpreso. Era o gol da Alemanha Oriental! Era a vitória que parecia impossível mais perto do que nunca.

Dai pra frente a Alemanha Oriental segurou com raça o resultado, para no final comemorar muito a vitória.

Pouco importa para os orientais se na continuação do mundial a Alemanha Ocidental se deu melhor e ficou com o título, a batalha de Hamburgo foi vencida pelos orientais e isso nunca seria esquecido.

O autor do gol, Jürgen Sparwasser, declarou alguns anos depois que se em sua lápide escreverem apenas “Hamburgo 1974” todos na Alemanha saberão quem está enterrado ali.

Jogo completo na transmissão da TV da Alemanha Oriental:


*Integrantes do grupo chamado Setembro Negro sequestraram e assassinaram onze membros da equipe olímpica de Israel.

Por Thiago Cassis, no Portal Vermelho

Rap versus rap (e os meios de comunicação no meio)


Jurei pra mim há alguns anos que não falaria mais sobre este assunto. Um, por ser óbvia a minha posição a respeito disso. Outro, porque cada um faz o que bem entender de sua vida e carreira.

Eu não vi rap na TV durante minha infância e adolescência. Vi em casa, meu pai sonhando em ser DJ, sem ter lugar pra tocar, coitado, amava o rap como eu e você, mas não tinha onde mostrar seu talento. O resultado? “Crisântemo“, seu Miguel foi pra um abismo de frustração, onde encontrou o alcoolismo como fiel parceiro e o fim já contei mil vezes, todos sabem.

Quantos igual ao meu pai sucumbiram sonhando em mostrar seu dom pro mundo através do hip-hop? Muitos, muitos mesmo. Só eu conheço mais de 20 histórias tristes de irmãos que abandonaram seu sonho, por não haver um circuito que exponha essa demanda. Dá pra escrever um livro sobre isso. Em “Então Toma” eu disse – “vou me levantar por todos que caiu” –, é isso o que faço. Levo minha verdade onde for respeitado, mostrando que existem outras versões do Brasil que precisam ser expostas urgentemente. Se não para vencer de vez o racismo, a desigualdade social e os preconceitos, pelo menos amenizar e criar pontes para que os ouvintes/espectadores façam isso.

Resolvi escrever porque me enviaram um email com um texto supostamente escrito pelo Edi Rock explicando por que foi ao Caldeirão do Huck. Fiquei triste, pois se o Edi Rock/Racionais precisa explicar que tá do nosso lado, então tem algo muito errado no hip-hop Brasileiro.

A TV é uma ferramenta de distribuição de informação, em sua maioria ruim, concordo, mas vamos perder a oportunidade de colocar verdade ali dentro, até quando? Por que o Datena e o Rezende já estão lá, aplaudindo uma polícia que mata pretos/pobres nas periferias do Brasil inteiro. Essa é a programação ideal? Pois, se for, já conquistamos e podemos comemorar nossa vitória. Eu acho que não conquistamos nada, NADA MESMO. Digo com propriedade pois sou dono da única empresa que é fruto genuíno do hip-hop brasileiro e acho que o Brasil tem que invadir a mídia de verdade.

Temos 500 anos de mentiras ali e muito me orgulha ver isso ser destruído aos poucos pela maravilhosa força construtiva do hip-hop do Brasil.

Sabe o que o hip-hop no Brasil está virando? O hip-hop no brasil está virando um cara com um punhado de sementes nas mãos, que invés de plantar, cuidar e ver crescer uma nova floresta, deixa que estas sementes morram longe de onde podiam germinar, pois está muito ocupado caçando quem está cortando árvores por aí e, não encontrando um cortador de árvores que lhe dê atenção, ele vira pra outro semelhante com outro punhado de sementes e começa a brigar porque ninguém planta mais.

Agora eu te faço a seguinte pergunta (voz do Rezende): qual foi a a última vez que você viu um show grande foda com os maiores nomes do rap? Qual foi a última vez que viu um evento grande de hip-hop? Eu te respondo: faz tempo que não tem. Digo com propriedade porque eu organizei alguns, talvez a maioria dos que ocorreram sem nenhum incentivo público ou privado. Tirei do bolso pra fazer e não é fácil trabalhar duramente sendo apedrejado por quem não constrói nada. É foda.

Ninguém é obrigado a assistir a TV, ninguém é obrigado a concordar com ninguém, mas todo mundo é obrigado a se respeitar. Mas cadê o respeito pela diferença de opiniões quando alguém pensa diferente de você? Você quer que as pessoas sejam livres ou que elas sejam livres pra concordarem com você?


maxresdefault-1Aí me vem o argumento de que o Racionais disse que não iria na TV. Sim, disse, em 1988, no século passado, eu me lembro. Mas aconteceram algumas coisas entre 1988 e 2013 que podem ter feito algumas pessoas no mundo mudarem de ideia, certo? E todos mudam de ideia, com exceção dos idiotas. Esses abraçam orgulhosamente um pensamento atrasado e afundam com ele junto à âncora de seu egoísmo.

Malcolm X mudou de ideia. Em uma viagem, ele entendeu ao ver brancos que não eram racistas que o problema não era a cor, era o pensamento racista. Foi aí que ele se ligou que uma coisa é vingança e outra coisa é justiça. Sabe um cara que nunca mudou de ideia? Adolf Hitler.

Hip-hop, seja feliz e conte sua verdade, propague a beleza do nosso povo, nosso foco deve ser nos fortalecer cada vez mais, física e mentalmente para podermos construir o Brasil que queremos. Nosso pior inimigo é o nosso próprio descuido e o hip-hop anda descuidado. A cultura aqui é uma criança e ninguém notou o abandono. Lembre da beleza e da superação, de se aprender a dar um moinho de vento, fazer um graffiti, um scratch ou uma rima e use esta beleza como força pra subir lá no ringue e vencer. Porque ser preto e morrer esquecido na miséria é fácil, é isso que o

sistema quer. Eu particularmente quero mais é ver vocês milionários.

A rua é nóiz (gloriosamente).

Por: Emicida, na Carta Capital

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Dia do professor é dia de luta



Os cerca de 2,5 milhões de professores brasileiros têm algo a comemorar: a sua luta em favor da educação ganhou as ruas. Juntamente com os estudantes, conseguiram mais verbas para a educação e neste momento lutam para a aprovação já do Plano Nacional de Educação, com objetivo de atingir 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor c pra qualquer país que deseja um desenvolvimento nacional independente.

Os professores fizeram neste ano diversas greves para conquistarem melhores salários e condições de trabalho. Como os professores do Rio de Janeiro que mesmo apanhando da polícia mantiveram-se firmes e insistem em defender a dignidade profissional.

Como os estudantes e jovens que saíram às ruas para conquistar mais verbas para a educação. Os professores saíram das salas de aula e ensinaram cidadania. Como disse Paulo Freire “se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”.

Neste dia 15 de outubro de 2013, mais do que nunca os professores são merecedores de aplausos e juntamente com os estudantes e com a sociedade lutam pelo melhor para o Brasil.

Levar para as ruas a mensagem de que a educação deve ser transformada em prioridade nacional, como uma área estratégica para o país ser cada vez mais soberano em suas decisões é a bandeira de quem acredita na mudança. Portanto, acompanhar e pressionar os congressistas a aprovar o PNE é tarefa de todos e os professores estão dando aula nessa luta de braços dados com os estudantes. Uma das principais questões para melhorar a educação é valorizar o professor, sem ele não há boa educação.

Por Marcos Aurélio Ruy, da redação

UBES defende a escola que queremos em seminário nacional hoje

Começa hoje, Dia do Professor, o Seminário Nacional sobre a Reformulação do Ensino Médio, promovido pela Comissão Especial para o assunto na Câmara dos Deputados, em Brasília. O evento será realizado nesta terça- feira (15), de 19h às 21h, e quarta-feira (16), de 9h às 18h, no anexo II, Auditório Nereu Ramos.
O evento dá sequência aos debates com especialistas e autoridades, realizados desde 2012 com o objetivo de discutir propostas de melhoria para o ensino médio brasileiro. Durante esse período, foram promovidos seminários regionais e audiências públicas, na Câmara e nos Estados. Os relatórios obtidos serão utilizados na proposta legislativa para a reforma dos currículos e do próprio modelo do ensino médio.
Programação e temas

Com a presença do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, entre os temas debatidos estão o currículo e as diretrizes curriculares, integração do ensino médio com educação profissional, formação de professores e gestores, condições de oferta do ensino médio e infraestrutura, instrumentos de avaliação e os relatórios dos Seminários Estaduais.

Além da presença da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) representando os movimentos educacionais brasileiros, também estarão presente o Conselho Nacional de Educação (CNE), Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae), Centro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Todos pela Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP).

A União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), que realiza seu 40º Congresso e marcou para a quinta-feira (17) o Dia Nacional de Paralisação Estudantil pela Escola que Queremos! E os secundaristas quem escola em tempo integral com aluas de artes, esportes, novas tecnologias, que tenham biblioteca e entendam sues alunos e a comunidade onde está inserida (conheça o site da UBES).

Programação

Redação com UBES e agências

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mário de Andrade, um escritor de caso com o comunismo


Ao longo de sua vida pública – e particularmente ao refletir sobre a “aristocrática” Semana de Arte Moderna –, Mário de Andrade incorporou cada vez mais preocupações com a cena política. Nesse percurso, fez referências elogiosas às ideias e práticas comunistas, sobretudo à experiência soviética

“Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta”, declarou Mário de Andrade (1893-1945), num de seus versos mais conhecidos. Em outro poema, o escritor paulista, um dos principais líderes do modernismo brasileiro, parece deixar a receita para decifrá-lo: “É só tirar a cortina / Que entra luz nesta escurez”. Com uma ressalva: “Para quem me rejeita, trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou”.

A despeito de tantas pistas, mesmo quem o aceitou não deu conta, pelo menos até hoje, de retratar em definitivo o autor de Pauliceia Desvairada (1922), Amar, Verbo Intransitivo (1927) e Macunaíma (1928). Decorridos 68 anos de sua morte, Mário é o segundo escritor mais estudado nas universidades do Brasil, atrás apenas de Machado de Assis (1839-1908) – mas não se tornou objeto de uma única biografia publicada sequer.

A espera, porém, deve acabar neste segundo semestre. Quem promete vencer a histórica lacuna e lançar sua primeira biografia é o jornalista Jason Tércio, autor de Segredo de Estado – O Desaparecimento de Rubens Paiva (2011). Tércio diz saber onde se meteu. A vida privada de Mário é um mistério cercado de rumores por todos os lados. A vida pública já foi alvo de centenas de artigos jornalísticos e trabalhos acadêmicos. Dissecar uma e outra é uma aventura. Relacioná-las e interpretá-las com equilíbrio, uma epopeia.

“Mário gestor”

Não há indícios de qual dos 300 ou 350 Mários mais chamou a atenção de seu biógrafo. De qualquer maneira, em meio às comemorações dos 120 anos do nascimento de Mário de Andrade, sobressai cada vez mais a figura do gestor, com destaque para sua atuação à frente do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo (1935-1938).

Além do lançamento da biografia, outro evento a fortalecer essa tendência é a “Ocupação Mário de Andrade”, que ressalta os feitos do escritor “nos campos da gestão e da política cultural, em tempos nos quais esses termos não eram usuais”. Depois de ficar em cartaz por um mês, no Itaú Cultural, em São Paulo, a mostra ainda pode ser vista na internet.

Foram 18 anos desde o ingresso do escritor paulista na vida pública – em 1917, com o livro Há uma Gota de Sangue em cada Poema – até sua posse do Departamento de Cultura, marco zero do “Mário gestor”. O livro de estreia coincidiu no tempo com a Revolução Russa, mas o poeta dizia estar sob o impacto da Primeira Guerra Mundial.

Também em 1917, Mário de Andrade saiu em defesa da artista plástica Anita Malfatti, cuja “Exposição de Pintura Moderna”, em São Paulo, acendeu o reacionarismo da crítica. A mostra foi um divisor de águas na formação do escritor, que confessou ter aderido ao modernismo por influência do trabalho de Anita: “Devo a revelação do novo e a convicção da revolta a ela e à força de seus quadros”.

Semana de 22

Mas é com a Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, que Mário de Andrade emerge como a liderança máxima do movimento modernista. Seu engajamento foi decisivo não apenas para articular e promover o evento – mas também para lhe garantir lugar na posteridade.

Um lugar e uma posteridade que não foram naturais, conforme aponta Marcia Camargos em Semana de 22 – Entre Vaias e Aplausos (2002). “Afinal, por que um evento que provocou prejuízo considerável a seus organizadores, foi difamado por boa parte da imprensa da época e recebeu mais vaias do que aplausos continua despertando tanto interesse?”, questiona a autora.

O fato é que a Semana foi beneficiada com o passar do tempo. O que prevalece hoje, na opinião de Marcia, são estudos “em geral consagradores” a respeito do evento. E, se o estalo modernista de 1922 sobreviveu, foi graças, em boa medida, à militância de seus dois protagonistas – os Andrade, Mário e Oswald, amigos e parceiros que, sete anos depois do evento, viraram desafetos.

A herança da Semana passa por ambos. Da negação comum do passadismo, cada um desses escritores, à sua maneira, passou a seguir seu próprio itinerário modernista, inaugurando as primeiras vertentes do movimento. “Enquanto Oswald de Andrade era o devasso, o piadista, Mário era o ‘scholar’, o erudito, o monumento moral”, comparam José Geraldo Couto e Mario Cesar Carvalho, em ensaio de 1993.

Para Jason Tércio, Mário representava o “pensador participante”, e Oswald fazia as vezes de “agitador”. Ao ser entrevistado pelo Valor Econômico em 2012, Tércio garantiu que Mário cuidou melhor que Oswald do patrimônio de 1922: “Foi ele quem deu sequência às ideias da Semana, quem mais se empenhou para manter acesa a fogueira, participando dos debates posteriores com artigos na imprensa e palestras, ajudando a fundar revistas, escrevendo ensaios e pondo em prática, nos seus textos, todo o ideário modernista”.

Autocrítica

É uma meia-verdade. Tércio desconsidera que, no pós-1922, poucas investidas contra a Semana foram mais demolidoras do que o balanço feito pelo próprio Mário de Andrade em 1942, quando o evento completou duas décadas. A autocrítica do escritor começou em fevereiro, numa série de quatro artigos para o jornal O Estado de S. Paulo. Continuou dois meses depois, na conferência “O Movimento Modernista”, lida por Mário em 30 de abril, para uma plateia de estudantes que lotava a Biblioteca do Itamaraty, no Rio de Janeiro.

Das vaias à consolidação do movimento, o escritor inferiu que o modernismo não foi mais que “um abandono consciente de princípios e de técnicas”, “uma revolta contra a intelligentsia nacional”. Outros slogans – escreve ele – devem ser descartados. “Quanto a dizer que éramos antinacionalistas, é apenas bobagem ridícula”, comenta Mário, assumindo que “o espírito e as modas foram diretamente importados da Europa” – e que “o movimento renovador era nitidamente aristocrático”.

Sobre os participantes da Semana, nada muito melhor. “Éramos uma arrancada de heróis convencidos, uns hitlerzinhos agradáveis”. E mais: “Vivemos uns seis anos na maior orgia intelectual que a história artística do país registra”, com “alguma patriotice e muita falsificação”.

No intervalo de pouco mais de dois meses entre os artigos no Estadão e o discurso no Itamaraty, Mário acentua a severidade de sua autorreflexão. Mesmo alegando não ser, por natureza, um “político de ação”, o escritor expôs o incômodo. Seu tempo era a “idade política do homem”, à qual ele tinha o dever de servir. Mas a Semana de 1922, na contramão de sua época, falhou ao ficar indiferente à cena nacional e aos segmentos populares.

De resto, o movimento era heterogêneo e incluía artistas com posições políticas abertamente conservadoras – caso de Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo –, o que dificultava certas tomadas coletivas de posição. “Fomos bastante inatuais. Vaidade, tudo vaidade”, resumiu Mário.

Ácido, ele equiparou seus pares a grandes artistas da Antiguidade que tiveram notoriedade, mas rebaixaram “a vida humana”, na medida em que nada fizeram para combater as mazelas vigentes: “Nos períodos de maior escravização do indivíduo, Grécia, Egito, artes e ciências não deixaram de florescer”.

“Caretas para a máscara do tempo”

No plano pessoal, a desilusão é ainda maior. “Chego, no declínio da vida, à convicção de que faltou humanidade em mim. Meu aristocratismo me puniu. Minhas intenções me enganaram. Quando muito, fiz de longe umas caretas para a máscara do tempo, o que não me satisfaz (…). Tendo deformado toda a minha obra por um anti-individualismo dirigido e voluntarioso, toda a minha obra não é mais que um hiperindividualismo implacável! E é melancólico chegar assim ao crepúsculo, sem contar com a solidariedade de si mesmo.”

O Mário de Andrade de 1942, volta e meia tachado como “maduro”, era na realidade um ser humano atormentado por problemas pessoais (crises financeiras, alcoolismo) e fragilizado diante de fatores externos (o Estado Novo, a Segunda Guerra Mundial). Como festejar o modernismo se os avanços alcançados nas artes e na cultura não se refletiam no dia a dia? “Os modernistas da Semana de Arte Moderna não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição. (…) Façam ou se recusem a fazer arte, ciência, ofícios. Mas não fiquem apenas nisso, espiões da vida, camuflados em técnicos de vida, espiando a multidão passar. Marchem com as multidões!”

Se deixasse a modéstia de lado, Mário poderia citar sua passagem pelo Departamento de Cultura como exemplo do que é marchar ao lado do povo. Mesmo sem experiência no serviço público nem vínculo com o grupo político do prefeito Fábio da Silva Prado e do governador Armando Sales de Oliveira, o escritor teve plena autonomia para dirigir o novo órgão.

O contexto lhe favorecia. Com a Constituição de 1934 e o anúncio de eleições para a Presidência da República em 1938, as elites paulistas acreditavam poder, finalmente, dar o troco em Getúlio Vargas e retomar a hegemonia perdida com a Revolução de 1930. “A ideia era fazer da experiência paulista o laboratório de um amplo projeto de alcance nacional, no caso da vitória de Armando Sales de Oliveira na eleição presidencial”, explica Eduardo Jardim, em Mário de Andrade – A Morte do Poeta.

Nenhum daqueles projetos-laboratório foi mais bem-sucedido que o Departamento de Cultura. De 1935 a 1938, Mário de Andrade liderou uma gestão criativa e transformadora, que abriu as portas do Teatro Municipal para a população pobre e construiu parques infantis. Os ônibus-biblioteca se alastraram. Instituições como a Discoteca Municipal e a Sociedade de Etnografia e Folclore foram criadas. Com as Missões de Pesquisas Folclóricas, pesquisadores de São Paulo foram ao Nordeste para fazer o registro de elementos da cultura popular.

Proletários

É curioso notar como Mário de Andrade imprimiu uma rara sensibilidade social às ações do Departamento. Conceitos tipicamente marxistas, como “proletariado”, nortearam a concepção de projetos como as Casas de Cultura Proletária e os Concursos de Arte Proletária. Além disso, os parques infantis eram necessariamente implantados em bairros operários, como a Lapa e o Ipiranga, com o objetivo de levar recreação e lazer aos “filhos dos trabalhadores”.

Orgulhoso de suas conquistas, o escritor alimentou uma imensa gratidão ao prefeito Fábio Prado. Em correspondência ao poeta e amigo Carlos Drummond de Andrade, Mário diz que tinha tudo para ser preterido, já que pesava contra ele a acusação de ser “comunista”.

Do Partido Comunista do Brasil, fundado em 1922, Mário nunca se aproximou. Sua única filiação, influenciada pela atividade política do irmão Renato, foi ao Partido Democrático. Mas as poucas referências do autor às ideias e práticas comunistas foram invariavelmente elogiosas. Logo no início do artigo “Comunismo”, publicado no Diário Nacional em 30 de novembro de 1930, Mário ataca as variantes anticomunistas em curso no País. “Está se dando no Brasil um movimento em torno da palavra Comunismo que é dum ridículo perfeitamente idiota”, opina. “Comunismo pra brasileiro é uma espécie de assombração medonha.”

O escritor denunciava também a campanha contra a incipiente experiência soviética: “Os países capitalistas têm feito tudo não só pra ocultar da humanidade a Rússia verdadeira, como inda têm feito tudo pra prejudicá-la até internamente”. O Brasil, de acordo com Mário, não estava imune a essa ofensiva. “Me arde ver o susto brasileiro ante esse monstro de palco, inventado pela malvadeza de uns e a ignorância de outros.”

O marxismo e a verdade humana

Em 1933, ao responder a um questionário da editora norte-americana Macaulley & Co, Mário voltou a surpreender. “Minha maior esperança é que se consiga um dia realizar no mundo o verdadeiro e ignorado Socialismo. Só então o homem terá o direito de pronunciar a palavra ‘civilização’.”

Numa carta a Oneyda Alvarenga, Mário completa: “Não admito integralmente o marxismo e sinto na vida humana uma porção de causas e de imponderáveis que produziriam os efeitos. Mas incontestavelmente o marxismo contém uma enorme parte de verdade que hoje nem é marxista mais porque incorporada ao conhecimento geral, à verdade humana. Coisas que ninguém discute mais”.

Os pensadores contemporâneos voltaram ao assunto. Moacir Werneck de Castro – que conviveu com Mário nos três anos em que o escritor paulista morou no Rio de Janeiro (1938-1941) – lançou Mário de Andrade – Exílio no Rio (1989), vigoroso ensaio sobre o amigo. “Mário jamais pretendeu assimilar o marxismo, mas utilizava conceitos marxistas como instrumentos de análise e de conhecimento da realidade”, ponderou Werneck. Em Intelectuais Brasileiros e Marxismo (1991), Leandro Konder diz haver em Mário um “interesse (desconfiado porém simpático) pelo comunismo”.

Em 1945, já prestes a morrer, o escritor paulista arrisca, em nome da paz mundial, uma momentânea apologia do realismo soviético e da arte engajada contra o nazismo – mas como complemento (e não oposição) ao modernismo. Interpretando Mário, Konder conclui que “a cultura não pode resolver questões que a vida não resolveu: o que ela pode (e precisa) fazer é nos proporcionar maior familiaridade com elas”. Ajudar-nos a enxergar nossas interrogações talvez seja, justamente, a única marca onipresente nos 300 ou 350 Mários de Andrade.

André Cintra é jornalista e escritor (Este artigo foi publicado originalmente na revista Princípios, nº 126, agosto/setembro de 2013)
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